sábado, 27 de setembro de 2014

O sonho perdido do PSDB


Charge Bessinha

Sendo verdade que há um forte desejo de mudança e um igualmente forte “sentimento antipetista” no País – como apregoam os próceres do PSDB –, então não dá para explicar a firme e constante subida de Dilma nas pesquisas.
Dilma é petista e, dos candidatos principais, é a única a não falar em mudança, a não ser de forma retórica e evasiva (“mudar mais”). Por uma lógica simples, o conservador atual não é antipetista. Ele prefere defender o que já conquistou em vez de ousar novos caminhos. Seu desejo de mudança é de outra natureza: confunde-se com melhoria lenta, gradual e segura. O que é inteiramente compreensível.
A pregação, o diagnóstico e a “teoria” eleitoral do PSDB são, portanto, equivocadas.  
Se um simples analista pode fazer esta conta, por que não a fizeram os estrategistas da campanha de Aécio? Por que, em vez de explorarem o decantado “desejo de mudança” e o enigmático “sentimento antipetista”, gastaram munição pesada para empurrar o potencial eleitor de Marina para o colo de Dilma?
Resposta possível: por excesso de protagonismo misturado com um desejo nada mudancista de fazer com que a velha polarização PT vs. PSDB fosse mantida, quem sabe tendo em vista batalhas futuras.
A campanha de Aécio, a hierarquia e a militância peessedebista acharam que poderiam falar por toda a oposição ao PT e reviver, com o veto a Marina, as mesmas baboseiras com que tentam derrotar o PT, sem sucesso, há 12 anos. Pensaram que os tucanos seriam recebidos pelo povo como salvadores da nação, aqueles que resgatariam a racionalidade e que teriam, como por desígnio divino, as melhores soluções para todos os problemas. Em vez de colarem no prestígio e na empatia popular de Marina, tacharam-lhe a pecha de “linha auxiliar do PT” e despertaram o sentimento petista que jazia adormecido por aí, combinado com medo de mudança e fascínio pelo Presidente.
Mas como, justo ele, Aécio, que passou anos de braços dados com Lula pelo País afora, vangloriando-se do bom trânsito junto ao PT?
Além de não terem crescido como imaginavam, jogaram os votos que poderiam ter para o alto, fazendo com que evaporassem. Determinaram a queda de Marina e a afirmação de uma nova força política. Deixaram a reeleição de Dilma encaminhada. De quebra, perderam Minas.
Cá entre nós, não é burrice demais para quem pretende se apresentar como a quintessência da racionalidade e do preparo técnico-político?
Dizem que no segundo turno o PSDB declarará apoio a Marina e que o eleitor tucano, que seria acima de tudo um ardoroso “antipetista”, votará maciçamente na candidata do PSB. Há motivos de sobra para que se duvide de ambas as hipóteses. Primeiro, porque uma declaração de apoio nem sempre significa apoio de fato. E depois, porque o eleitor tucano médio (em tese um “antipetista”) tem todo o direito de não querer votar numa candidata que foi sistematicamente apresentada, pelas lideranças do PSDB, como uma petista camuflada e ainda por cima despreparada para governar o País. Estará cheio de boas razões para não se empenhar, anular o voto ou até mesmo fazer um voto tiririca em Dilma. Além disso, nem todo eleitor de Aécio é tucano.
Entende-se, assim, porque nas recentes simulações para o segundo turno Dilma abriu 4 pontos de vantagem e Marina só consegue converter metade do eleitorado tucano, número insuficiente para torná-la vencedora.
Se tudo caminhar como indicam as pesquisas – e é bom ficarmos preparados para reversões de última hora –, as eleições de 2014 terminarão com a comprovação cabal de que o PSDB tem pouco preparo e pouca força para “desalojar” o PT do governo. Preservará São Paulo, cada vez menos uma joia da Coroa, mas não voltará tão cedo a Brasília. Em sua marcha para o ostracismo, durante a qual só olhará para o próprio umbigo, levará consigo o sonho da reprodução ao infinito de uma polarização perdida.

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