domingo, 29 de novembro de 2009

O professor e a sala de aula

Eis uma entrevista para ser lida por todos que se dedicam à docência ou se interessam pela atividade dos professores.

Aparecida Neri de Souza, professora da Faculdade de Educação da Unicamp, é dessas intelectuais que honram o título que carregam. Combativa, estudiosa, pesquisadora, tudo em tempo integral. Seu grupo de estudos se concentra no sentido social da modernização do trabalho, com foco, evidentemente, no trabalho docente. Foi nessa área que fez seu pós-doutorado, no Laboratório de Trabalho e Mobilidades da Universidade de Paris X.

Neri é uma defensora dos professores, especialmente os do ensino médio e fundamental e da rede pública. É uma militante que não tem medo de caminhar contra o vento e desafiar o coro dos contentes. Vive pensando a profissão, lutando por ela e por sua valorização.

Na entrevista que concedeu para a Revista Educação, nº 151, que está nas bancas, detona os que acham que o professor pode ser um “leigo”, isto é, alguém sem formação específica, pensado como expediente para solucionar alguns dos lancinantes problemas da educação. E defende a necessidade estratégica de maior definição do que seja o campo docente. Para ela, o estabelecimento de um currículo comum, de uma norma válida para todos, em vez de retirar a autonomia do professor, dá a ele melhores condições de exercer sua função e contribuir para a formação de uma população de cidadãos. Se bem construída, a normatividade aumentaria as possibilidades de o professor ter uma visão de conjunto do seu trabalho e de interagir livremente com seus alunos naquele espaço demarcado que é a sala de aula.

A entrevista pode ser acessada neste link.

sábado, 14 de novembro de 2009

A construção de um estado


Tive a honra e o prazer de prefaciar o livro de minha amiga Marisa Bittar sobre a história do estado de Mato Grosso do Sul. Foi uma satisfação dupla. Primeiro, por ter podido me incorporar ao trabalho de uma pesquisadora incansável, que dedicou vários anos ao trabalho de recuperar o processo de construção daquela unidade da federação. Segundo, por ter podido participar, graças a ela, de uma reflexão de grande relevância para a história moderna do Brasil.

Mato Grosso do Sul: a construção de um estado acaba de ser publicado pela editora da Universidade Federal, a UFMS, com apoio de diversos órgãos mato-grossenses do sul. São dois volumes, com mais de 900 páginas, que oferecem ao leitor uma ampla compreensão sobre a gênese do Estado que começou a ser sonhado no final do século XIX, após a Guerra do Paraguai. Com base em fontes inéditas e raras, Marisa analisa o recrudescimento do regionalismo sul-mato-grossense, que se transformou em divisionismo e teve o seu desfecho quase cem anos depois, quando, em 1977, a ditadura militar dividiu Mato Grosso e criou Mato Grosso do Sul.

Problematizando a forma pela qual ocorreu essa separação, sem consulta às duas populações interessadas, norte e sul, a pesquisadora buscou investigar as condições que possibilitaram a vitória de uma causa perdida, privilegiando a conjugação dos interesses regionais à geopolítica do regime militar, que, por sua vez, transcorria no contexto da Guerra Fria. Na sua visão, ter sido criado por um ato ditatorial constitui a marca de nascença de Mato Grosso do Sul, tema que deve ser contextualizado no cenário de interesses da oligarquia agrária sulista, nos projetos separatistas frustrados, na rivalidade com a capital Cuiabá.

Valeu a pena a divisão de Mato Grosso? Marisa está convencida de que essa é a pergunta a ser enfrentada, porque dela emerge o desafio de um projeto político capaz de justificar a criação de Mato Grosso do Sul.

Marisa Bittar é historiadora, com doutorado na USP. Atualmente, é professora titular de História e Filosofia da Educação da UFSCAR. Seu belo e vigoroso livro certamente se converterá na principal fonte de referência para o estudo da região e particularmente de Mato Grosso do Sul.

Informações sobre o livro podem ser solicitadas à Editora UFMS: conselho@editora.ufms.br

sábado, 7 de novembro de 2009

Seminário sobre Bobbio e direitos humanos


Entre os dias 9 e 12 de novembro, a Universidade Federal da Paraíba-UFPB realiza seu V Seminário Internacional de Direitos Humanos, que este ano homenageará o centenário de nascimento de Norberto Bobbio. Será uma excelente oportunidade para se voltar a pensar no legado desse importante filósofo político italiano, morto aos 94 anos em janeiro de 2004.

Bobbio está incorporado à cultura política, jurídica e sociológica brasileira, como de resto acontece em boa parte do mundo. Colou-se à dinâmica política do país e ao debate cultural que acompanhou a luta contra a ditadura militar e a redemocratização a partir da década de 1980. Foi lido e disputado tanto por liberais, patrocinadores de seu ingresso editorial no Brasil, quanto pela esquerda democrática que, ao perder o marxismo como referência e se projetar em busca de novas alternativas socialistas, acabou por se converter em uma de suas principais promotoras. Dialogou, por vias diretas e indiretas, com comunistas gramscianos, trotskistas, social-democratas e stalinistas, tomou assento na universidade e tornou-se referência do associativismo democrático, que ficou particularmente tocado pelo modo como ele pensou o conceito de sociedade civil. Sensível tanto ao borbulhar suave das idéias quanto aos fatos mais duros da política, Bobbio se converteu numa personalidade intelectual de livre trânsito em diferentes círculos brasileiros.

O seminário de João Pessoa reunirá um representativo grupo de estudiosos da Europa e da América Latina, que têm dialogado com diferentes aspectos do pensamento e da obra de Bobbio. Entre eles, podem ser mencionados Alberto Filippi (Itália), Alice Ribeiro Casimiro Lopes (UERJ), Assis Brandão (UFPE), Carlos Henrique Cardim (IPRI / UNB), Celso Lafer (USP), Danilo Zolo (Itália), Acílio da Silva Estanqueiro Rocha (Universidade do Minho, Portugal) e Pier Paolo Portinaro (Itália).

Informações e detalhes sobre o seminário podem ser obtidos nesse site.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O livro póstumo de José Roberto Melhem




No próximo dia 9 de novembro de 2009, segunda-feira, às 19 horas, na Casa das Rosas, Avenida Paulista, 37, será lançado Uma Tarde Destas, livro póstumo de José Roberto Melhem. A edição é da Imprensa Oficial de São Paulo.

Conheci Melhem no final dos anos 70 nos ambientes da esquerda democrática que lutava contra a ditadura. Ficamos amigos. Escritor, advogado, fino analista político, grande conversador, pessoa de sensibilidade artística e conhecimento técnico apurado, foi sempre um apaixonado pela idéia de se ter um mundo mais justo, democrático e igualitário. Preso e processado durante a ditadura, nunca se intimidou ou deixou de fazer política. Com a redemocratização, ocupou vários cargos públicos, como por exemplo o de Secretário Adjunto da Secretaria Estadual de Administração, no início da década de 1990.

Foi também presidente do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico-Condephaat de São Paulo por quase dez anos, o que lhe possibilitou agir e desenvolver um articulado pensamento sobre essa área estratégica.

Melhem acreditava que o maior desafio que se apresenta para a tarefa preservacionista é “o do desenvolvimento das cidades em harmonia com a preservação dos valores culturais nelas reconhecidos”. Não aceitava nem que o desenvolvimento urbano fosse cego para a preservação do patrimônio, nem que o preservacionismo impusesse a estagnação urbana. Considerava falsa a incompatibilidade entre a preservação e as mudanças das cidades, que atribuía “a um grande inimigo que é justamente a falta de planejamento e disciplina adequados”, como disse em um de seus discursos. Achava uma distorção que os núcleos urbanos que se melhor se conservaram foram os que pararam no tempo. Queria uma opção mais inteligente: “A preservação pode e deve conviver com o progresso, precisamente porque ambos são vitais para que a sociedade alcance o futuro sem o risco de perder-se nos desvios indesejáveis de uma história sem rumo e sem memória”.

Como escritor, Melhem foi um contista refinado. Suas criações refletiam o olhar sagaz que tinha para a vida e a enorme capacidade de contar histórias. O escritor Milton Hatoum, que faz a apresentação de Uma Tarde Destas, observou com precisão: "Como diz um dos personagens, 'nem tudo na vida são enredos'. Isso se ajusta às narrativas deste livro, em que tudo depende do modo de narrar. E Melhem é um grande narrador, um dos mais talentosos da literatura brasileira contemporânea!".

Melhem morreu em 6 de abril de 2008, aos 64 anos. Deixou um vazio nos muitos amigos que tinha, nos familiares e na vida política e cultural de São Paulo. Seu livro póstumo, que ficou lindo, nos ajuda a preencher esse vazio.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Ray e Stevie Living for the city




Pra quem gosta de boa música, um Ray Charles vale muito. Um Stevie Wonder também. Imaginem então os dois juntos! Passeando pelo Youtube, descobri o vídeo em que esses dois monstros sagrados da blak and soul music – geniais blind boys da música americana – tocam e cantam juntos. Living For The City é uma composição de Stevie, letra linda, corrosiva, pura poesia sobre a dura vida de negros e brancos em New York City. A performance de Ray é absolutamente fantástica.

Impossível não gostar e se emocionar: http://bit.ly/lRzpB