domingo, 21 de setembro de 2014

Insights dominicais


Ilustração Benett

1.    O clima eleitoral e o nível das campanhas estão tão ruins que aquilo que é vantagem e virtude vira desvantagem e problema. Petistas, tucanos e grande mídia vibram com as divergências que assessores de Marina expõem a céu aberto. Dizem que elas provam que Marina não está preparada para governar, que as divergências são “fogo amigo” e demonstram incoerência e falta de firmeza. O Estadão de hoje dedica duas páginas só para denunciar o fato. Todos passam batido pelo fato de que divergências entre assessores (ou entre assessores e candidatos) significam sobretudo que não há consensos fechados na campanha e que a candidata se mostra sensível às circunstâncias em que atua. Afinal, ela é uma política, não uma “chefa” que comanda com braços de ferro, manuais e cartas de navegação orientadas pelo passado ou por assessorias de marketing.
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2.   Não tenho particular admiração pelo senador José Sarney. Cumpriu um papel na transição para a democracia, mas depois disso nada mais fez que o destacasse positivamente. Juntamente com o PMDB, tem sido um fator de suporte do Poder Executivo, oscilando conforme a valsa.  Mas é de admirar a capacidade que tem Sarney de bater no cravo e na ferradura. Em artigo publicado recentemente no jornal espanhol El País e também em seu blog pessoal, ele afirmou que o Brasil passa por um “tsunami político” que ameaça as chances do PT de continuar no poder, enfraquecendo até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, segundo Sarney, parece ter perdido “a aura da invencibilidade”. Para ele, Lula “dá sinais de não desejar engajar-se num pacto de morte e se afasta de um duelo fatal”. Até o PMDB, maior sigla da base aliada de Dilma, só fechou com a presidente, segundo ele, devido à presença do vice-presidente Michel Temer na chapa. O PMDB “só não vota contra Dilma por causa do vínculo de sua participação na chapa; de uma figura de simples adereço, Michel Temer passou a ser decisivo para a vitória”. Mas Sarney não se entrega. Acha que Marina Silva “é uma incógnita” que, como senadora e ministra do Meio Ambiente de Lula, “deixou uma marca de radicalismo, como fundamentalista, de capacidade limitada, preferindo sempre a confrontação ao diálogo, e buscando não o entendimento, mas a conversão”. Depois tem gente que diz que só tucanos é que ficam em cima do muro.
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3.   Não há propriamente desinteresse político na população. Parcela dela pode, claro, pouco se importar com eleições, convencida de que não mudam a vida, vença quem vencer. Mas a grande maioria reage ao cardápio que lhe é oferecido por partidos e candidatos. Se se anuncia mais do mesmo, o cidadão segue com sua vida. PT vs. PSDB de novo? Tô fora. Se, porém, abre-se uma clareira de oportunidade e a discussão sai do script conhecido, as orelhas cívicas ficam eriçadas, atentas às novas propostas, à nova fraseologia, aos novos argumentos. Este é, por enquanto, o principal benefício trazido pela candidatura de Marina.
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4.   A política econômica não é a alavanca das mudanças de que se necessita no país. É importante, mas não decisiva. A economia que importa, no melhor dos casos, é a economia política, e esta quase nunca aparece. A alavanca continua sendo, e cada vez mais, a política: as instituições democráticas, a cultura política, o modo de governar, a capacidade de construir pactos e consensos. Por isso, “nova política” e “reforma política” são os temas quentes, que incendeiam corações e mentes. E distinguem candidatos.
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5.    A degradação política atual deveria preocupar a todos, até aos que defendem a continuidade do governo Dilma. A luz amarela está acesa faz tempo e o vermelho pisca sem cessar. Continuar pode significar ir mais depressa rumo ao desastre anunciado.
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6.   Dilma prometeu e está cumprindo: passou a “fazer o diabo” para ganhar as eleições. Parece convencida de que a sociedade não percebeu que está “obrigada” a reelegê-la, envenenada que estaria pelas oposições. Sua campanha ataca sempre abaixo da linha da cintura, cria um ambiente ruim para órgãos técnicos como o IBGE e o IPEA e para empresas importantes como a Petrobras e os Correios, fomenta o medo na população. Se vencer, até onde chegará?
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7.    A campanha de Dilma está turbinada e conta com recursos milionários, apoios e adesões. No fundo, porém, o que há é somente disposição desmesurada para manter o poder, não um projeto de vida coletiva, Estado e sociedade. Por isso, pode até ganhar as eleições, mas dificilmente conseguirá construir o futuro. Como não tem capacidade de hegemonia (direção intelectual e moral), terá dias difíceis pela frente.
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8.   Unidade na diversidade deveria ser o lema de toda política democrática com intenção reformadora. Ela é a chave do novo.
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9.   Tiririca tem muitos votos. Eleitores o seguem como praga. Deve ser porque o acham engraçado, “fofinho” e anárquico, ou porque levam a sério o bordão “pior do que está não fica”. Com cara de sonso e ar matreiro, o rapaz será mais uma vez campeão de votos em São Paulo. Como é da base governista e faz campanha para Dilma, logo vem uma tropa lembrar que Tiririca tem o direito de estar no Congresso, representa excluídos como ele, não pode ser discriminado e, como se não bastasse, “é um dos melhores deputados de Brasília”. A Transparência Brasil ajuda a esclarecer o fato: o deputado é assíduo, mas não discursa jamais, sua voz nunca foi ouvida em plenário. Também não articula, não dá entrevistas, não participa ativamente de comissões e não conseguiu transformar em lei suas propostas (a maioria voltadas para o mundo do circo), ou dar visibilidade a elas. Em suma, ele e o nada são a mesma coisa. O duro é saber que, com ele em Brasília, pior do que está fica.
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10.    A esta altura da campanha, o Corinthians segue firme rumo às duas metas fixadas para o turno: chegar ao final no G4 e impedir que o São Paulo seja campeão. Se possível, contribuir para fazer com que o Cruzeiro sofra um pouco e sue a camisa para ganhar.

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