terça-feira, 2 de julho de 2013

A hora da política e as dificuldades da Presidência


Deve-se aproveitar o momento e fazer com que as ruas tirem o Congresso e a Presidência da letargia. Nem tudo será resolvido, mas muito poderá ser conseguido. A Presidência já se mexeu. Produziu mais marola que alteração na direção dos ventos. Não saiu do lugar, mas se mexeu... Falta o restante do sistema. Pressão social é decisiva. Tomara que não reflua. A hora é agora.


Muito se tem falado sobre a situação política do país e seus desdobramentos em termos de resposta governamental e manejo da crise. Passando rapidamente por aquilo a que tenho acesso, duas conclusões me parecem saltar aos olhos: há mais confusão que clareza e mais fragmentação que unidade.
São conclusões óbvias, mas nem por isso pouco importantes. Sobretudo porque delas deriva o eixo principal do momento: a dificuldade para se coordenar um processo altamente explosivo e multifacetado. Os poderes – do municipal ao federal – estão mostrando grande despreparo e seguem trilhas discutíveis. Ao passo, por exemplo, que a presidente Dilma insiste com a convocação de um plebiscito para “ouvir o povo” sobre a reforma política, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, joga para a plateia com um pacote de factoides que só complicam e desgastam sua já complicada e desgastada gestão. Para se ter uma ideia de como o governador paulista patina, basta lembrar que ele está gritando a plenos pulmões que irá economizar 350 milhões de reais mediante a venda de um helicóptero e de parte da frota de automóveis do Estado, provavelmente já meio sucateados. Promete também fundir 3 fundações técnicas (Fundap, Seade e Cepam), numa operação que poderá ter elevadíssimo custo financeiro e que desmontará o pouco que se tem de inteligência técnica na administração pública paulista. Um horror.
Das inúmeras frases interessantes que li por aí, pesquei quatro, que são emblemáticas. E muito mais eloquentes do que a queda dos índices de popularidade da presidente, dos governadores e prefeitos.
(1) "A hora é essa. O Congresso só se movimenta quando o povo empurra. Temos que aproveitar o momento". (Pedro Simon, senador).
(2) "Bastaria que houvesse firme vontade política por parte do líder maior da maioria no Congresso, que é o presidente da República". (Carlos Velloso, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal).
(3) “Estamos tentando consertar o avião em pleno voo. Os atores estão participando da vida política. Fazendo os seus cálculos: qual é o sistema eleitoral mais adequado para a minha agremiação, para o meu partido? Na experiência constitucional de outros países, essas reformas são feitas de forma gradual, com modelo de transição, de implementação deferida no tempo. É preciso que nós levemos isso em conta. Quando se diz "ah, agora nós vamos reformar o mundo de uma vez por todas", a gente já começa a errar.” (Gilmar Mendes, Entrevista à Folha, 01/07).
(4) "É preciso mudar e muito a relação política com a sociedade, o Congresso, os partidos, os governadores e prefeitos, as entidades empresariais, sindicais e populares. Além de mudar sua comunicação e a gestão e execução dos principais programas do governo". (...) "É preciso reavaliar prioridades e manter o rumo da política econômica para crescer sem inflação e distribuindo renda. É preciso também ouvir as críticas, demandas e reivindicações da cidadania. Além de ouvir as ruas e ir para as ruas defender e debater com o povo o plebiscito e a reforma política. No mais, é preciso mobilizar a base social e política do governo para defendê-lo e defender a obra do PT". (José Dirceu, no seu blog).
As frases dizem bastante, mas não dizem tudo. Até porque precisam ser combinadas entre si para que se alcance uma análise esclarecedora. Mais ou menos como segue.
Reforma política ficou travada no Brasil porque parlamentares só mudam regras do jogo político se não se prejudicarem com isso. Reforma política nunca foi proposta por nenhum presidente interessado de fato no tema. Caso venha a ser, avançará. Mesmo sem plebiscito. Presidentes podem muito num sistema presidencial. E parlamentares podem não ser progressistas e revolucionários, mas sabem quando o fogo chega perto.
Deve-se aproveitar o momento e fazer com que as ruas tirem o Congresso e a Presidência da letargia. Nem tudo será resolvido, mas muito poderá ser conseguido. A Presidência já se mexeu. Não se mexeu corretamente, a meu ver, produzindo mais marola que alteração na direção dos ventos. Não saiu do lugar, mas se mexeu... Falta o restante do sistema. Pressão social é decisiva. Tomara que não reflua. A hora é agora.
O problema é saber se alguém poderá coordenar a pressão social ou se será necessário haver coordenação Os partidos não estão à altura. Até por estarem a ser “rejeitados" pelos manifestantes e por não estarem conseguindo entender a mensagem que vem das ruas. Hoje, concretamente, o sistema, que colonizou o mundo da vida, está sendo desobedecido e colonizado pelo mundo da vida. Essa colonização, porém, é imperfeita, pois está anunciada mas não realizada. Na verdade, se realizada, não será uma colonização, mas uma emancipação.
Basta ver como os partidos batem cabeças, como não falam nada, não conseguem definir um rumo. Nenhum deles escapa, nenhuma corrente.  O silêncio chega a doer.
A frase de José Dirceu, acima, é a confissão cabal disso. O PT está no governo, mas parece mais propenso a fritar Dilma do que a lhe dar sustentação.  Dizer que há problemas na relação de Dilma com a sociedade, o Congresso, os sindicatos, os prefeitos, os empresários, que é preciso mudar sua comunicação e a gestão que faz dos programas governamentais, é como dizer que o governo não funciona ou não tem legitimidade, e está a correr risco grave. Fala com voz grossa que se deve “mobilizar a base social e política do governo”, mas parece jogar a toalha ou sugerir que a paciência se esgotou. É como pedir para que o PT providencie outro candidato para 2014. Lula deve ter gostado.

2 comentários:

Anônimo disse...

Confesso que ler um extrato de manifestação do José Dirceu em seu "Possibilidades da política", me causou mau estar em princípio. Mas, com os inimigos, e ele é um inimigo do povo brasileiro, se aprende também. Suas palavras sempre são a do comissário golpista, autoritário, stalinista. Destaca-las, portanto, faz bem para os homens de boa vontade e princípios democráticos. Mobiliza para lutar contra as intenções do sabujo.
Paulo Antunes

Blog do Marco Aurélio Nogueira disse...

Não concordo com o adjetivo "sabujo". Trata-se de um político, que erra e acerta, como todos. Posso achar que mais erra do que acerta, mas não devo fazer disso uma desqualificação pública.