segunda-feira, 7 de julho de 2014

O que é ou pode ser politizar as eleições




A propósito da oportuna e enigmática declaração de Dilma de que a próxima disputa presidencial será "a mais politizada da história", pode-se arriscar uma reflexão.
Há dois modos típicos de fazer com que se expressem divergências políticas. Cada um deles se subdivide em dois, que se combinam.
Um deles privilegia o público e o que é de interesse coletivo; o outro privilegia os correligionários e o que é de interesse particular (de um partido ou candidato). O primeiro politiza bem mais que o segundo, que pouco faz além de partidarizar. Ao passo que o segundo esconde o particular sob a cobertura de um coletivo abstrato, o primeiro submete o particular a uma coletividade concreta.
Outra polarização sugere que se pode agir para destacar o que diferencia as posições divergentes ou o que as aproxima. No primeiro caso, busca-se a preponderância, aquilo que isola e distancia um do outro. No segundo, busca-se o que os divergentes têm em comum e pode servir de base para que se atenuem as diferenças. Nesse caso, o primeiro produz tensão e exclusividade: é arrogante, digamos assim. O segundo produz relaxamento e cooperação: é mais humilde.
São duas formas de pensar a politização. Uma politiza mais, tem qualidade superior: incorpora, agrega e educa, busca enfatizar o que é comum e mais relevante. A outra politiza menos, tem baixa qualidade: trabalha dividindo e separando, oferecendo ao público um alimento já mastigado e artificialmente universal.
No Brasil atual, todos os protagonistas – tucanos, petistas, socialistas, verdes, comunistas, liberais, conservadores, democratas – politizam buscando afirmar a própria posição e desrespeitando ou ignorando as posições alheias. Por isso, o debate político não avança: não gera interlocução. A explicação para tal situação pode ser encontrada tanto na má qualidade dos debatedores, quanto na ausência, neles, de algo mais que interesse de parte, cegueira perante o que é interesse coletivo. Tem-se dito o tempo todo: faltam projetos de sociedade, sobram projetos de poder.
Os dois modos podem ser combinados no decorrer de um embate político. Costuma ser assim, aliás, já que política é busca de afirmação da própria parte e de sedução das partes adversárias, tentativa permanente de ser protagonista e de atrair os que pensam diferente, se possível para impedi-los de ser protagonistas. Mas um dos modos tenderá a prevalecer, na dependência da personalidade, das intenções e dos projetos dos contendores, das circunstâncias da contenda.

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