quarta-feira, 11 de junho de 2014

PMDB, o partido subalterno




O apoio oficial do PMDB à candidatura de Dilma Rousseff, decidido em convenção realizada no último dia 10 de junho, não causou surpresa nem impacto particular. Estava escrito nas estrelas. Mas, seja pela margem estreita dos votos (398 a favor e 275 contrários, 59% a 41%), seja por tudo o que ocorreu nos últimos quatro anos, a decisão sugere alguma consideração.
Ela mostra a dificuldade que têm os políticos brasileiros de inovar suas agendas e rever seus procedimentos. Ao menos desde junho de 2013 ficou evidente que há um flagrante mal-estar social com o modo como se faz política e se governa no país. Os políticos teriam a obrigação de agir para corrigir as coisas. O problema não é de sistema – o tão falado “presidencialismo de coalizão” –, mas de estilo, pensamento e ação. Abraçados sem coerência programática ou ideológica, os partidos governam aos trancos e barrancos. Celebram alianças que, além do mais, sobrecarregam os custos das operações governamentais e administrativas, dadas as pesadas exigências que delas derivam.
O apoio peemedebista tem motivação eleitoral. Mas seu efeito político efetivo é uma incógnita e pode conter até mesmo um componente. Não foi por acaso que Michel Temer, antes da apuração dos votos, declarou que a confirmação da aliança com o PT abriria “portas para que um dia o PMDB ocupe todos os espaços políticos desse país, para o bem dos brasileiros". Falou, mas não disse tudo. Ocupar “todos os espaços políticos”? Papo para agradar os descontentes, mas que deixa evidente as reais intenções do partido e o que o levou de fato a reiterar a aliança.
O apoio é certamente favorável ao PT e a Dilma. Dá-lhe 2,5 minutos preciosos de rádio e TV, além de palanques em várias regiões, desde que se enquadrem os dissidentes. Ajuda a amortecer críticas e desgastes, assim como a disseminar a propaganda com que disputará as eleições.
Ao PMDB, fornece oxigênio para que siga na estrada como partido subalterno, sem pretensões ousadas, ideal ou programa. Abre-lhe a perspectiva de mais uma temporada de proximidade com o poder, mas o impede de sacudir seus andrajos e se renovar.
O PT ganha, mas pode perder mais à frente, caso vença as eleições. É que a aliança o amarra e condiciona, forçando-o a um jogo que garante certa governabilidade mas impede qualquer reforma digna do nome, o que é péssimo para um partido que se deseja transformador. Não é porque o PMDB assim o queira. É porque há coisas, em política, que estão inscritas no DNA dos atores: manifestam-se mesmo quando são outras as intenções e mais complexas as circunstâncias.
O PMDB foi o principal esteio da redemocratização, responsável maior pela estratégia de encurralamento progressivo e por via eleitoral do regime militar. Foi de fato uma grande frente, o “partido-ônibus”, que aceitava a todos mas tinha metas claras, ideias e programa, além de conseguir reunir políticos de estatura, intelectuais e expressivas lideranças associativas. Fez parte de uma época. Sobreviveu a ela, mas se descaracterizou. Tornou-se fisiológico, trocando o protagonismo político pela conquista de posições próximas ao poder. Aceitou papel secundário nos governos de FHC, de Lula e de Dilma, sempre passando a imagem de indispensável. Viu crescer sua divisão interna, invariavelmente centrada na questão de apresentar ou não candidatos próprios às eleições mas impulsionada por diferenças regionais importantes. Jamais chegou a ser propriamente coeso, como se houvesse em seu interior uma espécie de ambiguidade programada pronta para ser amplificada sempre que fosse preciso melhorar a posição relativa do partido na repartição de cargos ministeriais ou vantagens políticas.
Precisamente por isso, e levando em conta o tamanho da dissidência na convenção oficial (41%), não será surpresa se o PMDB mudar de ares caso algo venha a se modificar mais à frente.
O PMDB continuará vivo, desempenhando papel de peso no desfecho de vários impasses políticos e contribuindo para a formação de maiorias parlamentares. Perdeu a pegada oposicionista que havia em sua origem. Ajudará a todos os que se dispuserem a aceitar seus termos. Nessa toada, permanecerá também atrapalhando, ao engessar a política nacional mediante um jogo de apoios e trocas de favores que condiciona a democracia e freia o reformismo.

2 comentários:

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