quarta-feira, 7 de maio de 2014

O mês da Copa como recurso estratégico




O mês da Copa, que se estenderá de junho a julho, demarcará o início efetivo da campanha eleitoral e da disputa presidencial. Ainda que o processo político esteja já nas ruas e os choques aconteçam diariamente, o período preenchido pelo evento esportivo servirá para que os postulantes deixem clara a consistência do contraste entre oposição e situação.  Os distintos polos políticos do país oferecerão propostas efetivamente distintas? Quais serão elas, e que narrativas as traduzirão?
Deste ponto de vista, o período tem peso tático e estratégico importante.
Além de poder ser usado para que oposição e situação ganhem clareza programática e simbólica, o período servirá, também, para que se encaminhem e quem sabe se resolvam outras disputas e tensões, que todos conhecem mas que nem sempre são devidamente consideradas.
A primeira destas disputas é entre Aécio e Eduardo. Se o tucano mineiro trabalha a todo custo para mostrar que ele e o pernambucano são carne da mesma carne, Eduardo age em sentido oposto. Precisa, também a qualquer custo, escapar do abraço de urso que lhe quer dar o PSDB. Para o primeiro, sufocar as diferenças é neutralizar Eduardo e impedir que ele se apresente ao eleitorado como a terceira via tão desejada por muitos cidadãos. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra, pensa Eduardo: sua força, seu maior recurso, depende da capacidade que tiver de convencer o eleitor de que uma solução tertium datur – ele como terceiro termo – é a melhor para o país. Para Aécio, porém, a ideia de que as oposições estão e estarão unidas “em qualquer cenário” é a que melhor atende às pretensões de subir nas preferências: mostra-o como nome capaz de unir os brasileiros, ou ao menos os oposicionistas.
A segunda delas é interna corporis, e afeta a todos os postulantes à Presidência.
Dilma terá de acalmar sua tropa, a começar do próprio PT. O grito de “volta Lula”, ainda que tenha poucas possibilidades reais de sucesso, reflete uma avaliação negativa de suas possibilidades. Se permanecer vivo, em alto e bom senso, não ajudará à campanha, especialmente se o desempenho dela não melhorar no terreno decisivo da disputa: a política. A “reconfirmação” de sua candidatura pela direção do partido mostra mais fragilidade do que força. Foi uma tentativa de evidenciar a disposição partidária de ir com Dilma até o fim, o que não seria necessário caso ela estivesse solidamente plantada no partido. A presidente, porém, mostrou que não cederá e nos últimos dias seus aliados puseram-se em campo para turbiná-la.
Eduardo, por sua vez, terá de acertar o passo e o tom com Marina Silva. Mesmo que não seja algo dramático, não se trata de movimento simples. Temos ali dois projetos políticos, doutrinários e pessoais distintos, e a confluência deles está destinada a exigir sacrifícios de ambas as partes. A insistência de Marina em atuar como uma espécie de alterego (e às vezes de superego também) que vigia os passos e falas de Eduardo poderá aumentar as chamas e os ruídos entre os dois, o que evidentemente não beneficiará à candidatura. Para ganhar impulso e visibilidade, Eduardo precisa cortejar setores amplos sem se colar excessivamente na visibilidade de Marina. As alianças regionais, terreno sempre escorregadio, mostram bem como a operação é complicada.
Por último, Aécio precisará resolver o PSDB: pacificar de fato o partido, especialmente no estado mais emblemático, São Paulo, onde as arestas com Serra e Alckmin precisam ser aparadas. O discurso oficial diz, claro, que está tudo muito bem, tudo muito bom. Mas rusgas e feridas, em política, não costumam cauterizar com facilidade, até porque são impelidas por interesses e desejos de poder. Aécio também precisa se equilibrar entre as orientações algo díspares que convivem no partido, que explodem a todo momento, por exemplo quando é obrigado a falar de política econômica. Tem, ainda, que morder a língua para não desancar o PT, bicho-papão dos tucanos, pois caso erre na dose produzirá mais desafetos que eleitores.
Nada de novo no front. Todo mundo de algum modo sabe disso. Enquanto as atenções estiverem divididas com a Copa, os bastidores da política estarão fervendo. Aí, quando julho chegar, os que se saírem melhor por trás do palco tenderão a ganhar oxigênio e a crescer.

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