sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O destino de cada um




Não tenho talento nem conhecimento para fazer crítica literária. Até tentei, muito tempo atrás. Foi um fiasco.
Leio muita literatura, creio que hoje em dia até mais do que livros científicos. Para mim, é impossível entender o mundo sem literatura, sem música e sem cinema. A arte nos ensina coisas indispensáveis, que não podem ser encontradas na ciência, na filosofia ou na religião. Além disso, é menos chata.
Para mim, um bom romance não se filia a gêneros, escolas ou autores. É um texto que pega pela emoção, que envolve e faz fantasiar, refletir, pensar na vida, além de apresentar o leitor a personagens emblemáticos, singulares, com os quais estabeleço um relacionamento e entabulo uma conversação.
É assim com todo mundo que gosta de ler. Mergulhar no terreno sensível e explorá-lo de modo a ultrapassá-lo.
Acabei de ler Confinados, de meu amigo João Batista de Andrade, publicado recentemente numa bela edição da Prumo, de São Paulo.
O livro faz exatamente o que escrevi acima. Pegou-me pela emoção (que aumentou porque conheço o autor e compartilhei algumas coisas com ele). Ofereceu-me um relato pungente da vida como ela é e me pôs em contato com uma galeria de personagens densos, expressivos, fascinantes. Traficantes, gente comum, intelectuais. Sua trama é paulistana – a cidade tomada pela violência, um enredo que de certo modo nos remete às ações do PCC que sitiaram a cidade em 2006. Mas o que o enredo revela é universal e flui de maneira explosiva, às vezes delirante: confusões mentais, angústia, solidão, dúvidas, medos, a luta diária pela sobrevivência e pela vida, que pulsa mais forte.
Como é cineasta e documentarista militante – autor de tantos belos filmes com a marca do “cinema de intervenção” (Doramundo, O homem que virou suco, Vlado) –, João Batista constrói sua história como um mosaico de pequenas cenas plásticas, caprichosamente costuradas entre si. Lança-nos num redemoinho de labirintos e encruzilhadas.
Seus personagens estão confinados nessa trama diabólica que não controlam nem conhecem. Vivem. Batalham. Matam, amam e morrem. Confinam-nos com eles. E ao fazerem isso nos libertam.
O final aberto do livro sugere que o destino de cada um não está pré-determinado nem pode ser escolhido unilateralmente. Chances, desvios, riscos, circunstâncias e oportunidades estão o tempo todo redefinindo rumos que pareciam definitivos. É uma aposta na liberdade. E na capacidade humana de refletir sobre a própria experiência.
Tá na abertura do livro: "Você, como um leitor especial deste romance, pode mudar tudo. Proponha, mude, mesmo para que seja para que tudo continue como está. Pois se uma pessoa pode mudar uma história, abre-se uma nova chance para a vida. Quem sabe uma pessoa possa, com um gesto, uma opinião, mudar o mundo?”.

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