domingo, 23 de junho de 2013

A pressão de esquerda sobre Dilma





A esquerda independente mais radical e alguns setores da esquerda petista estão a ensaiar uma nova fase: exigir que Dilma ajuste seu governo, volte às origens e empreenda uma guinada em suas políticas. Para eles, o governo Dilma está cedendo demais ao pessoal vacilante, no qual são incluídos os ministros provenientes do PMDB e quadros petistas tidos como mais à direita, casos de Paulo Bernardo e Jacques Wagner. Sobra até mesmo para o prefeito Fernando Haddad.
Parece incrível, mas não é. Se olharmos o debate que rola pelas redes sociais, veremos essas posições serem expostas insistentemente. É fogo amigo de alta voltagem, parte da luta interna que cresce em ambientes do partido e na “sociedade civil petista”, quer dizer, nos círculos que congregam pessoas que apoiam o PT e seus governos, pessoas que em muitos casos são mais petistas que os próprios petistas.
Não tenho porque me envolver nessa briga de gente grande. Limito-me a ponderar:  como exigir isso de Dilma se o governo dela depende justamente de uma base parlamentar de centro-direita para se sustentar? Trata-se de um governo que tem no equilíbrio da presidente seu principal esteio. Ela simplesmente não pode ir para a esquerda. Seja porque sua base não a acompanhará, seja porque a sociedade não a apoiará. Não estamos num momento de aguçamento de conflitos esquerda / direita.
Claro, tudo a se ver e a se examinar com cuidado.
Reflexo claro disso foi o discurso da última sexta-feira, que tentei analisar numa postagem anterior. Dilma foi firme, calma e equilibrada. Não anunciou nenhuma guinada, nem para a esquerda nem para o centro. Se o discurso tiver de ser criticado – e eu acho que tem --, não é por ter sido moderado e tranquilizador, atento aos ruídos das ruas. Mas por ter sido vazio de propostas e ruim na comunicação. Por mostrar um governo que não sabe bem o que deve ser feito para dar um passo à frente. Talvez isso se deva à convicção governamental de que tudo estava tão bem e a população estava tão ao lado da presidente, que não seria necessário fazer nada a mais. Não se preparou para uma mudança na direção dos ventos. Por isso não propôs nada.
Mas precisamos distribuir bem as coisas. O problema não é Dilma. Talvez ela seja a solução. Quero dizer, a orientação dominante no PT, da qual ela é representante, Lula incluído. Tentar imprimir uma dinâmica de luta esquerda / direita no momento atual não corresponde aos fatos. E não interessa a ninguém, exceção feita à moçada de esquerda e direita que não consegue pensar sem essas categorias.
Enfraquecer a presidente agora, como fazem os esquerdistas com a alegação de que querem ajudá-la a se livrar dos “traidores” e dos “vacilões”, é ruim para todos. É um erro político, seja se a questão for o fortalecimento do PT, seja se for a defesa da democracia.

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