terça-feira, 18 de maio de 2010

Marina Silva, além dos partidos


Por Fraga, Zero Hora, Porto Alegre
Marina Silva, candidata do PV à Presidência da República, mandou muito bem na entrevista que o Estadão publicou no último domingo, 16/5. Mostrou que tem o que dizer e que está bem assessorada.
Algumas de suas respostas foram direto ao que me parece ser o mais grave problema da política contemporânea: o vazio de projetos: "Faço a defesa de um projeto político para o Brasil, já que os partidos, inclusive o PT, não foram capazes de atualizar seu pensamento". Para isso, Marina acredita que é preciso buscar interações permanentes com o que chama de “comunidades de pensamento”, ambientes que estariam acima de partidos políticos e se sustentariam por vínculos com “causas e princípios”. Por esse caminho, acrescente, pode-se chegar a uma “nova visão de como resolver os problemas do Brasil”, identificando as conquistas que os sucessivos governos (nomeadamente FHC e Lula) conseguiram alcançar.
Ela também foi firme na questão dos direitos humanos: "A defesa dos direitos humanos não pode ser relativizada. O caso de Cuba é claro. Reconhecemos que, antes da revolução, havia a ditadura de Batista, que aviltava os direitos humanos. Do ponto de vista das conquistas sociais, a revolução foi importante. Mas, se é bom para o Brasil ter democracia e liberdades políticas e de expressão, deve ser bom também para os cubanos".
E, por fim, abordou aquilo que não quer calar: "Creio em Deus como 95% dos brasileiros e acredito que Deus criou todas as coisas. Não preciso de teoria científica para justificar isso e não coloco nenhuma teoria científica para contrapor a ciência em relação a isso. Não acho que se deva fazer contraposição entre fé e ciência".
Foi uma fuga pra frente. Ela revela não ter opinião muito clara ou definida sobre o tema do criacionismo, mas reitera a tese criacionista básica, para então frisar que ciência é ciência, fé é fé. Com o que ficar? Ao que tudo indica, está aí o principal ponto frágil da candidata. Ela parece pressentir isso, ao insistir bastante na defesa de um Estado laico e ao afirmar que “em relação aos princípios de fé, defende a vida”.
Seja como for, a entrevista fornece um retrato abrangente de Marina Silva, sugerindo que ela poderá interferir positivamente no debate presidencial.
A entrevista pode ser lida aqui.

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