domingo, 22 de março de 2009

Maurício Tragtenberg



Fui aluno de Mauricio Tragtenberg (1929-1998) na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, início dos anos 1970. Ele ensinava ciência política, com um foco fortemente concentrado em Max Weber, com o qual costumava torpedear o mundo da política e das organizações. Weber e Trostsky freqüentavam em lugar de destaque seu panteão de grandes autores. Tragtenberg se interessava bastante pela questão da burocracia, que ele via, seguindo Weber mas pondo-se um passo à frente dele, como a grande jaula de ferro que aprisionava os indivíduos, bloqueava os projetos de emancipação e facilitava o cerceamento da ação política das classes sociais. Escreveu a respeito um livro fundamental, Burocracia e Ideologia, publicado em 1974 pela Editora Ática. Tive a oportunidade de resenhá-lo assim que saiu para o jornal Opinião, no primeiro artigo que escrevi para aquele histórico semanário.

Mais tarde, entre 1987 e 1989, convivi com ele na Editora Vozes, quando integramos a comissão editorial da coleção “Clássicos do Pensamento Político”, organizada e dirigida de fato por Octávio Ianni. As reuniões da comissão eram maravilhosas, repletas de digressões teóricas, humor e controvérsias.

Tragtenberg foi um fascinante exemplo de intelectual independente, weberiano de esquerda, trotskista a seu modo, socialista libertário, que unia uma enorme erudição a uma mordacidade implacável e a uma atitude de permanente desleixo e desprendimento pessoal. Terminava as aulas coberto de giz e de cinzas dos cigarros que não largava um minuto sequer. Anárquico em termos do controle da duração das aulas, era igualmente anárquico no quadro negro, que preenchia com garranchos e anotações incompreensíveis, enquanto falava, passando aos saltos e sem muita concatenação de Weber a Maquiavel, de Marx a Tocqueville, de Trotsky a Rosa Luxemburgo, de Popper às “civilizações hidráulicas” de Wittfogel. Era de uma enorme generosidade para com os estudantes. E odiava ser chamado de anarquista.

Mauricio Tragtenberg foi uma espécie de autodidata, embora tivesse concluído os estudos formais. Entrou tardiamente na universidade, cursou Ciências Sociais pela metade, depois História. Deu aulas no ensino fundamental, na PUC e na FGV de São Paulo, na Escola de Sociologia.

Colecionou admiradores ao longo da vida. Um deles é o professor Antonio Ozaí da Silva, da Universidade Estadual de Maringá e editor da revista eletrônica Espaço Acadêmico.

No final de 2008, Ozaí publicou o livro Maurício Tragtenberg: Militância e Pedagogia Libertária (Ijuí: Editora Unijuí, 2008, 344p.), no qual busca rememorar para as gerações atuais e futuras o pensamento e a prática de seu mestre. Ao discutir os vários momentos da trajetória pessoal, política e pedagógica de Maurício Tragtenberg, o livro lhe presta uma homenagem mais do que merecida e explora a hipótese de que sua militância intelectual e sua obra (que está a ser reeditada pela Editora Unesp) permanecem como uma referência para o pensamento crítico e a pedagogia. Vale a leitura.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Marco,

Muito interessante este livro sobre o trabalho do Mauricio Tragtenberg, um dos grandes pensadores brasileiros.

Li o livro "Burocracia e Ideologia", livro que sempre temos que relê-lo, com calma, pois seu profundo conhecimento não pode ser compremetido por uma leitura rápida e desatenta. Ele trabalha com maestria neste livro os conceitos de Weber.

Em outro livro dele, ele busca analisar e criticar as Universidades, "Sobre a Educação, Politica e Sindicalismo" publicado inicialmente pelo editora Cortez; nele tem um texto clássico: "Delinquência Academica". Hoje, felizmente, reeditado pela Editora Unesp.

Abraço,
Luiz Guilherme Paschoalini.