quarta-feira, 12 de março de 2014

Trepidações planaltinas


O Planalto continua a trepidar. Raiz: pressões por ajustes e conquista de espaços na coalizão governista tendo em vista as eleições e a perspectiva de um novo mandato para Dilma.
O PMDB engrossou a voz. Não irá por certo abandonar o barco. Tem muito mais a perder do que a ganhar com uma eventual saída da coalizão. Mas sabe usar como poucos a arma da ameaça. Tem feito isso desde que deixou de ser esteio da luta democrática no país, lá por volta do fim da Constituinte.
Nas últimas semanas, costurou um bloco independente no Congresso, ontem impôs derrota ao governo numa votação. Morde-e-assopra o tempo todo. Impulsionada pelo líder Eduardo Cunha, a bancada do partido na Câmara anunciou "independência" em relação ao governo e decidiu que apoiará a convocação da Executiva Nacional da legenda para "reavaliar" a atual aliança com o PT. Enquanto o líder diz que "discutir" não significa necessariamente romper com o PT, outros parlamentares, como o deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), por exemplo, falam a torto e a direito que "80% da bancada quer o rompimento".
Nitroglicerina. No mínimo, desafio e obstáculo a ser ultrapassado pelo governo. 
No primeiro momento, a presidente mostrou indiferença: "O PMDB só me dá alegria", declarou para enfatizar que não há crise à vista. Faz parte do jogo. Mas o PMDB está mesmo esticando a corda.
Em nota divulgada ontem, a bancada declarou ter aprovado “moção de  apoio e irrestrita solidariedade ao líder reeleito Eduardo Cunha, vítima de agressões despropositadas do PT que, em verdade, atingiram frontalmente a bancada e o próprio PMDB, já que as posições externadas pelo líder refletem a posição da bancada”.
Nessa operação, o partido vale-se da força derivada do fato de ser a segunda maior bancada da Câmara (75 deputados, antecedida pelo PT com 87) e de sua capilaridade nacional, o que faz o PMDB ter presença em praticamente todas as alianças regionais, o que lhe dá poder  para barganhar cargos ministeriais. Hoje o partido comanda 5 ministérios, e acha pouco.
Houve alguma falha na conduta tática de Dilma seja na questão das alianças regionais para a eleição seja na reforma ministerial. Como ela não se mostra disposta a dar mais espaço para os peemedebistas, não gosta de conversar com políticos e age de modo técnico e gerencial, os aliados ficam atiçados e põem suas armas e suas reivindicações na mesa.
Parte das vozes que nos últimos tempos vem pedindo “volta, Lula” tem a ver com isso. A gritaria já foi mais forte, mas ainda ressoa. Não deverá crescer, mas a tendência é que fique a latejar incomodamente.
No caso específico do PMDB, há uma tentativa de se desvincular da imagem do partido apetitoso, interessado em cargos. Suas lideranças tentam a todo momento desmentir isso. Ninguém acredita. Mais interessante é avaliar a movimentação como recurso para aumentar a força do partido (e dos interesses sociais que representa) na montagem da coalizão governista: um ator interessado em disputar a hegemonia com o PT no interior dela.
Preço que se paga. Quanto mais o PT fixar seu projeto na esfera do poder e não na sociedade, mais atrairá problemas deste tipo.

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