Lida em chave eleitoral, a questão do pré-sal tem 2 desdobramentos típicos.Um a vincula à Petrobras e às denúncias de corrupção política por meio da estatal. Outro a associa à questão do petróleo e da matriz energética.Como tem sido comum na atual disputa presidencial, o tema aparece deformado na boca dos candidatos.Antes de tudo, ninguém explica para a população do que é que se está falando. Deixa-se passar a impressão de que o pré-sal é uma descoberta de Dilma ou Lula, algo como o encontro de um santo Graal. Não se diz que as primeiras tentativas de perfurar poços profundos remontam aos anos 1980, e que o sucesso só não existiu então dadas as limitações tecnológicas da época. Cria-se intencionalmente uma ilusão. Blinda-se a discussão com uma cortina de fumaça.Os candidatos tropeçam.Marina não explicou suficientemente, até agora, como será de fato sua proposta de matriz energética. Apesar disso, tem uma opinião clara sobre o tema. Aécio limita-se a dizer que rediscutirá o modelo de partilha para a exploração do pré-sal e voltará ao modelo de concessão de FHC. É o mais modesto dos três. Dilma usa e abusa da mentira para tentar convencer o eleitor desinformado de que a candidata do PSB quer “acabar com o pré-sal” e “desprezar um recurso tão importante para o Brasil”. É a mais furiosa e agressiva. Faz um teatro difamatório e caluniador.Na infame propaganda petista para a TV, fala-se que Marina defende o “fim da prioridade ao pré-sal” e trará consequências “terríveis” para o país. Tenta-se assustar a população, sugerindo que Marina provocará desemprego, prejuízo para a saúde e a educação, e outras desgraças assim.É mentira grosseira.Primeiro, porque ninguém no governo ou no PT sabe dizer quanta grana virá de fato da extração de petróleo do pré-sal. Ah, será com certeza muito! Tudo chute. Também não se diz quando esta extração renderá alguma coisa. É algo importante, a ser comemorado? Claro que é. Mas devagar com o andor. O tratamento do tema busca criar a sensação de que as reservas de pré-sal são uma espécie de mina repleta de ouro, que deixará o país subitamente milionário, a ponto de resolver todos os seus problemas. É algo primário demais.Segundo, porque Marina nunca afirmou que abandonará ou desprezará o pré-sal. Até porque não depende ela, ou da vontade suprema do Presidente. O que ela disse, diz e creio continuará a dizer – com o apoio de todos os brasileiros sensatos – é que o país não pode depender de uma única fonte de energia, que o petróleo “é uma prioridade entre outras” e que é preciso reformular a matriz energética de modo a nela incluir fontes renováveis de energia, como a solar, a eólica e a biomassa.Seu programa de governo fala isso textualmente. Peço licença para citá-lo:“Em linhas gerais, propõe-se maior diversificação da matriz energética brasileira, com ampliação da participação da eletricidade, redução do consumo absoluto de combustíveis fósseis e aumento da proporção de energias renováveis, tais como energia eólica, solar e de biomassa, principalmente da cana-de-açúcar”. (...)“A política de apoio à revitalização dos biocombustíveis será associada ao estímulo à implementação de programas de certificação socioambiental a fim de garantir que sua produção se dê de forma social e ambientalmente sustentável, respeitando os diretos trabalhistas”.E acrescenta-se, para não dar margem a dúvidas:“Mesmo considerando os maiores esforços para a redução do consumo absoluto de combustíveis fósseis, o petróleo e seus derivados continuarão a ser fonte importante na matriz energética brasileira, dado que não há tecnologia para sua substituição no curto prazo”. (...)“Um dos grandes desafios para o Brasil é encontrar as bases para o desenvolvimento sustentável, o que implica rever a noção de progresso, agregando-lhe um sentido mais humano, justo, solidário e respeitoso – tanto para as pessoas quanto para o planeta. A transição para esse novo modelo deve ser planejada, e o governo precisa lançar mão de políticas públicas adequadas a esse objetivo”.Esta a discussão que precisa ser feita. Queremos continuar dependentes de um recurso não renovável e que polui o ambiente e tende ao esgotamento? Ou seria mais prudente e adequado sair desta armadilha, respirar mais fundo e ampliar a diversificação? Queremos desenvolvimento com certeza, mas que tipo de desenvolvimento e a que preço?Se a campanha de Dilma fosse limpa e se preocupasse de fato com o esclarecimento político dos cidadãos brasileiros, seriam estas perguntas que deveria dirigir aos eleitores. E responder.
Porque a política democrática administra o presente mas retira sua poesia da construção consciente do futuro.
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
Pré-sal: o que deveria ser discutido?
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