|
Charge Bessinha |
Sendo verdade que há um forte
desejo de mudança e um igualmente forte “sentimento antipetista” no País – como
apregoam os próceres do PSDB –, então não dá para explicar a firme e constante
subida de Dilma nas pesquisas.
Dilma é petista e, dos
candidatos principais, é a única a não falar em mudança, a não ser de forma
retórica e evasiva (“mudar mais”). Por uma lógica simples, o conservador atual
não é antipetista. Ele prefere defender o que já conquistou em vez de ousar
novos caminhos. Seu desejo de mudança é de outra natureza: confunde-se com
melhoria lenta, gradual e segura. O que é inteiramente compreensível.
A pregação, o diagnóstico e a “teoria” eleitoral do PSDB são, portanto, equivocadas.
Se um simples analista pode
fazer esta conta, por que não a fizeram os estrategistas da campanha de Aécio?
Por que, em vez de explorarem o decantado “desejo de mudança” e o enigmático “sentimento
antipetista”, gastaram munição pesada para empurrar o potencial eleitor de
Marina para o colo de Dilma?
Resposta possível: por excesso
de protagonismo misturado com um desejo nada mudancista de fazer com que a
velha polarização PT vs. PSDB fosse
mantida, quem sabe tendo em vista batalhas futuras.
A campanha de Aécio, a
hierarquia e a militância peessedebista acharam que poderiam falar por toda a
oposição ao PT e reviver, com o veto a Marina, as mesmas baboseiras com que
tentam derrotar o PT, sem sucesso, há 12 anos. Pensaram que os tucanos seriam
recebidos pelo povo como salvadores da nação, aqueles que resgatariam a
racionalidade e que teriam, como por desígnio divino, as melhores soluções para
todos os problemas. Em vez de colarem no prestígio e na empatia popular de Marina,
tacharam-lhe a pecha de “linha auxiliar do PT” e despertaram o sentimento
petista que jazia adormecido por aí, combinado com medo de mudança e fascínio
pelo Presidente.
Mas como, justo ele, Aécio, que
passou anos de braços dados com Lula pelo País afora, vangloriando-se do bom
trânsito junto ao PT?
Além de não terem crescido como
imaginavam, jogaram os votos que poderiam ter para o alto, fazendo com que evaporassem. Determinaram a queda de Marina e a afirmação de uma nova força política. Deixaram a reeleição de Dilma
encaminhada. De quebra, perderam Minas.
Cá entre nós, não é burrice
demais para quem pretende se apresentar como a quintessência da racionalidade e
do preparo técnico-político?
Dizem que no segundo turno o
PSDB declarará apoio a Marina e que o eleitor tucano, que seria acima de tudo
um ardoroso “antipetista”, votará maciçamente na candidata do PSB. Há motivos
de sobra para que se duvide de ambas as hipóteses. Primeiro, porque uma
declaração de apoio nem sempre significa apoio de fato. E depois, porque o
eleitor tucano médio (em tese um “antipetista”) tem todo o direito de não
querer votar numa candidata que foi sistematicamente apresentada, pelas
lideranças do PSDB, como uma petista camuflada e ainda por cima despreparada
para governar o País. Estará cheio de boas razões para não se empenhar, anular
o voto ou até mesmo fazer um voto tiririca em Dilma. Além disso, nem todo
eleitor de Aécio é tucano.
Entende-se, assim, porque nas
recentes simulações para o segundo turno Dilma abriu 4 pontos de vantagem e
Marina só consegue converter metade do eleitorado tucano, número insuficiente
para torná-la vencedora.
Se tudo caminhar como indicam
as pesquisas – e é bom ficarmos preparados para reversões de última hora –, as
eleições de 2014 terminarão com a comprovação cabal de que o PSDB tem pouco
preparo e pouca força para “desalojar” o PT do governo. Preservará São Paulo,
cada vez menos uma joia da Coroa, mas não voltará tão cedo a Brasília. Em sua
marcha para o ostracismo, durante a qual só olhará para o próprio umbigo, levará consigo o sonho da reprodução ao infinito de
uma polarização perdida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário