1.
O clima eleitoral e o nível das campanhas estão
tão ruins que aquilo que é vantagem e virtude vira desvantagem e problema.
Petistas, tucanos e grande mídia vibram com as divergências que assessores de
Marina expõem a céu aberto. Dizem que elas provam que Marina não está preparada
para governar, que as divergências são “fogo amigo” e demonstram incoerência e
falta de firmeza. O Estadão de hoje dedica duas páginas só para denunciar o
fato. Todos passam batido pelo fato de que divergências entre assessores (ou
entre assessores e candidatos) significam sobretudo que não há consensos
fechados na campanha e que a candidata se mostra sensível às circunstâncias em
que atua. Afinal, ela é uma política, não uma “chefa” que comanda com braços de
ferro, manuais e cartas de navegação orientadas pelo passado ou por assessorias
de marketing.
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2.
Não tenho particular admiração pelo senador José
Sarney. Cumpriu um papel na transição para a democracia, mas depois disso nada
mais fez que o destacasse positivamente. Juntamente com o PMDB, tem sido um
fator de suporte do Poder Executivo, oscilando conforme a valsa. Mas é de admirar a capacidade que tem Sarney
de bater no cravo e na ferradura. Em artigo publicado recentemente no jornal
espanhol El País e também em seu blog
pessoal, ele afirmou que o Brasil passa por um “tsunami político” que ameaça as
chances do PT de continuar no poder, enfraquecendo até o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, que, segundo Sarney, parece ter perdido “a aura da
invencibilidade”. Para ele, Lula “dá sinais de não desejar engajar-se num pacto
de morte e se afasta de um duelo fatal”. Até o PMDB, maior sigla da base aliada
de Dilma, só fechou com a presidente, segundo ele, devido à presença do
vice-presidente Michel Temer na chapa. O PMDB “só não vota contra Dilma por
causa do vínculo de sua participação na chapa; de uma figura de simples
adereço, Michel Temer passou a ser decisivo para a vitória”. Mas Sarney não se
entrega. Acha que Marina Silva “é uma incógnita” que, como senadora e ministra
do Meio Ambiente de Lula, “deixou uma marca de radicalismo, como
fundamentalista, de capacidade limitada, preferindo sempre a confrontação ao
diálogo, e buscando não o entendimento, mas a conversão”. Depois tem gente que
diz que só tucanos é que ficam em cima do muro.
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3.
Não há propriamente desinteresse político na
população. Parcela dela pode, claro, pouco se importar com eleições, convencida
de que não mudam a vida, vença quem vencer. Mas a grande maioria reage ao
cardápio que lhe é oferecido por partidos e candidatos. Se se anuncia mais do
mesmo, o cidadão segue com sua vida. PT vs.
PSDB de novo? Tô fora. Se, porém, abre-se uma clareira de oportunidade e a
discussão sai do script conhecido, as
orelhas cívicas ficam eriçadas, atentas às novas propostas, à nova fraseologia,
aos novos argumentos. Este é, por enquanto, o principal benefício trazido pela
candidatura de Marina.
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4.
A política econômica não é a alavanca das
mudanças de que se necessita no país. É importante, mas não decisiva. A
economia que importa, no melhor dos casos, é a economia política, e esta quase
nunca aparece. A alavanca continua sendo, e cada vez mais, a política: as
instituições democráticas, a cultura política, o modo de governar, a capacidade
de construir pactos e consensos. Por isso, “nova política” e “reforma política”
são os temas quentes, que incendeiam corações e mentes. E distinguem
candidatos.
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5.
A degradação política atual deveria preocupar a
todos, até aos que defendem a continuidade do governo Dilma. A luz amarela está
acesa faz tempo e o vermelho pisca sem cessar. Continuar pode significar ir
mais depressa rumo ao desastre anunciado.
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6.
Dilma prometeu e está cumprindo: passou a “fazer
o diabo” para ganhar as eleições. Parece convencida de que a sociedade não
percebeu que está “obrigada” a reelegê-la, envenenada que estaria pelas
oposições. Sua campanha ataca sempre abaixo da linha da cintura, cria um
ambiente ruim para órgãos técnicos como o IBGE e o IPEA e para empresas
importantes como a Petrobras e os Correios, fomenta o medo na população. Se
vencer, até onde chegará?
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7.
A campanha de Dilma está turbinada e conta com recursos
milionários, apoios e adesões. No fundo, porém, o que há é somente disposição
desmesurada para manter o poder, não um projeto de vida coletiva, Estado e
sociedade. Por isso, pode até ganhar as eleições, mas dificilmente conseguirá
construir o futuro. Como não tem capacidade de hegemonia (direção intelectual e
moral), terá dias difíceis pela frente.
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8.
Unidade na diversidade deveria ser o lema de
toda política democrática com intenção reformadora. Ela é a chave do novo.
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9.
Tiririca tem muitos votos. Eleitores o seguem
como praga. Deve ser porque o acham engraçado, “fofinho” e anárquico, ou porque
levam a sério o bordão “pior do que está não fica”. Com cara de sonso e ar
matreiro, o rapaz será mais uma vez campeão de votos em São Paulo. Como é da
base governista e faz campanha para Dilma, logo vem uma tropa lembrar que
Tiririca tem o direito de estar no Congresso, representa excluídos como ele,
não pode ser discriminado e, como se não bastasse, “é um dos melhores deputados
de Brasília”. A Transparência Brasil ajuda a esclarecer o fato: o deputado é
assíduo, mas não discursa jamais, sua voz nunca foi ouvida em plenário. Também
não articula, não dá entrevistas, não participa ativamente de comissões e não
conseguiu transformar em lei suas propostas (a maioria voltadas para o mundo do
circo), ou dar visibilidade a elas. Em suma, ele e o nada são a mesma coisa. O
duro é saber que, com ele em Brasília, pior do que está fica.
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10.
A esta altura da campanha, o Corinthians segue
firme rumo às duas metas fixadas para o turno: chegar ao final no G4 e impedir que
o São Paulo seja campeão. Se possível, contribuir para fazer com que o Cruzeiro
sofra um pouco e sue a camisa para ganhar.
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