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Stefano Rollero, Tra memoria e mutazione. |
Se todos os três principais
candidatos à Presidência dizem ser favoráveis à mudança – e o fazem porque julgam
ter captado um “sentimento de mudança na sociedade” –, como poderemos saber em
qual deles a mudança será efetivamente impulsionada?
Conversa de campanha, sem
dúvida. Todos falam em mudar, até porque a vida é mudança e nossa época fez disso
uma espécie de moto contínuo e de símbolo. Mudamos tanto e tão depressa que nem
percebemos o movimento que nos projeta para frente. Valorizamos cegamente a
mudança, queremos sempre mais dela. Somos atacados por ela, ou pela sensação
dela. A política não tem como não se deixar contagiar. Quem não se compromete
com mudanças deixa de dialogar com o imaginário social. Prega no deserto.
Mudar, na política de épocas
eleitorais, significa invariavelmente melhorar, progredir, eliminar entraves e
corrigir erros. No jargão habitual, não há espaço que associe a mudança ao
risco de que a vida piore. O discurso político, ao menos entre nós, não é
crítico nem autocrítico. Todos falam em mudança, seja para atacar os
adversários (que não seriam tão mudancistas), seja para se autoglorificarem
como campeões da “verdadeira mudança”.
Se sairmos deste terreno,
perceberemos que a questão é bem mais complicada. Antes de tudo porque os
humanos falam de mudança mas são estruturalmente conservadores: não gostam de
mudar e erguem barreiras terríveis para a mudança. Fazem isso sem ter noção de
que o estão fazendo, quer dizer, sem consciência ou intenção: somente para
defender o que já conquistaram, para não correr o risco de perder o que acumularam
e para proteger aquilo que lhes dá estabilidade e identidade. Mesmo assim
mudam, fazem a história sem saber. Paradoxalmente, têm medo das mudanças e medo
de que as coisas nunca mudem.
Pode-se mudar e piorar, porque
a história não é uma flecha que aponta sempre para frente. Está integrada por
movimentos surpreendentes, não previsíveis, por efeitos bumerangue e
retrocessos, erros e fracassos. A rigor, ninguém a controla.
Tudo isso é óbvio, mas não
frequenta nenhum discurso político. Não é da natureza da política ir muito além
da positividade e das promessas. Suas falas incluem até mesmo, de forma dissimulada,
a ideia de que às vezes é preciso mudar para que tudo fique como está. Ou de que
se deve mudar sem sair um milímetro do lugar.
Quando Dilma fala em “Mais mudanças,
mais futuro”, está quantificando a mudança sem se dar conta de que aquilo que
importa é a qualidade da mudança.
Aécio Neves é imperativo quando
propõe “Muda Brasil”. Ignora que a mudança social é uma construção que somente
pode proliferar se for adotada pela sociedade: negociada com ela.
Eduardo Campos diz que é preciso
“Coragem para mudar o Brasil”, como se o problema fosse exclusivamente de falta
de vontade e ousadia.
Caso se deixem orientar por tais
visões de mudança, as pessoas para quem a vida precisa de fato mudar ficarão
sem saber para que lado correr. E passarão a se perguntar: se é assim, por que
diabos esses candidatos não se dão as mãos e juntam forças para desenhar uma
mudança que seja factível e produza impacto efetivo sobre o futuro?
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