sexta-feira, 18 de julho de 2014

A mudança na boca do povo


Stefano Rollero, Tra memoria e mutazione.

Se todos os três principais candidatos à Presidência dizem ser favoráveis à mudança – e o fazem porque julgam ter captado um “sentimento de mudança na sociedade” –, como poderemos saber em qual deles a mudança será efetivamente impulsionada?
Conversa de campanha, sem dúvida. Todos falam em mudar, até porque a vida é mudança e nossa época fez disso uma espécie de moto contínuo e de símbolo. Mudamos tanto e tão depressa que nem percebemos o movimento que nos projeta para frente. Valorizamos cegamente a mudança, queremos sempre mais dela. Somos atacados por ela, ou pela sensação dela. A política não tem como não se deixar contagiar. Quem não se compromete com mudanças deixa de dialogar com o imaginário social. Prega no deserto.
Mudar, na política de épocas eleitorais, significa invariavelmente melhorar, progredir, eliminar entraves e corrigir erros. No jargão habitual, não há espaço que associe a mudança ao risco de que a vida piore. O discurso político, ao menos entre nós, não é crítico nem autocrítico. Todos falam em mudança, seja para atacar os adversários (que não seriam tão mudancistas), seja para se autoglorificarem como campeões da “verdadeira mudança”.
Se sairmos deste terreno, perceberemos que a questão é bem mais complicada. Antes de tudo porque os humanos falam de mudança mas são estruturalmente conservadores: não gostam de mudar e erguem barreiras terríveis para a mudança. Fazem isso sem ter noção de que o estão fazendo, quer dizer, sem consciência ou intenção: somente para defender o que já conquistaram, para não correr o risco de perder o que acumularam e para proteger aquilo que lhes dá estabilidade e identidade. Mesmo assim mudam, fazem a história sem saber. Paradoxalmente, têm medo das mudanças e medo de que as coisas nunca mudem.
Pode-se mudar e piorar, porque a história não é uma flecha que aponta sempre para frente. Está integrada por movimentos surpreendentes, não previsíveis, por efeitos bumerangue e retrocessos, erros e fracassos. A rigor, ninguém a controla.
Tudo isso é óbvio, mas não frequenta nenhum discurso político. Não é da natureza da política ir muito além da positividade e das promessas. Suas falas incluem até mesmo, de forma dissimulada, a ideia de que às vezes é preciso mudar para que tudo fique como está. Ou de que se deve mudar sem sair um milímetro do lugar.
Quando Dilma fala em “Mais mudanças, mais futuro”, está quantificando a mudança sem se dar conta de que aquilo que importa é a qualidade da mudança.
Aécio Neves é imperativo quando propõe “Muda Brasil”. Ignora que a mudança social é uma construção que somente pode proliferar se for adotada pela sociedade: negociada com ela.
Eduardo Campos diz que é preciso “Coragem para mudar o Brasil”, como se o problema fosse exclusivamente de falta de vontade e ousadia.
Caso se deixem orientar por tais visões de mudança, as pessoas para quem a vida precisa de fato mudar ficarão sem saber para que lado correr. E passarão a se perguntar: se é assim, por que diabos esses candidatos não se dão as mãos e juntam forças para desenhar uma mudança que seja factível e produza impacto efetivo sobre o futuro?

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