O apoio oficial do PMDB à
candidatura de Dilma Rousseff, decidido em convenção realizada no último dia 10 de junho, não causou surpresa nem impacto particular. Estava escrito nas
estrelas. Mas, seja pela margem estreita dos votos (398 a favor e 275
contrários, 59% a 41%), seja por tudo o que ocorreu nos últimos quatro anos, a
decisão sugere alguma consideração.
Ela mostra a dificuldade que têm
os políticos brasileiros de inovar suas agendas e rever seus procedimentos. Ao
menos desde junho de 2013 ficou evidente que há um flagrante mal-estar social
com o modo como se faz política e se governa no país. Os políticos teriam a
obrigação de agir para corrigir as coisas. O problema não é de sistema – o tão
falado “presidencialismo de coalizão” –, mas de estilo, pensamento e ação.
Abraçados sem coerência programática ou ideológica, os partidos governam aos
trancos e barrancos. Celebram alianças que, além do mais, sobrecarregam os
custos das operações governamentais e administrativas, dadas as pesadas
exigências que delas derivam.
O apoio peemedebista tem
motivação eleitoral. Mas seu efeito político efetivo é uma incógnita e pode conter
até mesmo um componente. Não foi por acaso que Michel Temer, antes da apuração
dos votos, declarou que a confirmação da aliança com o PT abriria “portas para
que um dia o PMDB ocupe todos os espaços políticos desse país, para o bem dos
brasileiros". Falou, mas não disse tudo. Ocupar “todos os espaços
políticos”? Papo para agradar os descontentes, mas que deixa evidente as reais
intenções do partido e o que o levou de fato a reiterar a aliança.
O apoio é certamente favorável
ao PT e a Dilma. Dá-lhe 2,5 minutos preciosos de rádio e TV, além de palanques
em várias regiões, desde que se enquadrem os dissidentes. Ajuda a amortecer críticas
e desgastes, assim como a disseminar a propaganda com que disputará as
eleições.
Ao PMDB, fornece oxigênio para
que siga na estrada como partido subalterno, sem pretensões ousadas, ideal ou
programa. Abre-lhe a perspectiva de mais uma temporada de proximidade com o
poder, mas o impede de sacudir seus andrajos e se renovar.
O PT ganha, mas pode perder
mais à frente, caso vença as eleições. É que a aliança o amarra e condiciona,
forçando-o a um jogo que garante certa governabilidade mas impede qualquer
reforma digna do nome, o que é péssimo para um partido que se deseja transformador.
Não é porque o PMDB assim o queira. É porque há coisas, em política, que estão
inscritas no DNA dos atores: manifestam-se mesmo quando são outras as intenções
e mais complexas as circunstâncias.
O PMDB foi o principal esteio
da redemocratização, responsável maior pela estratégia de encurralamento
progressivo e por via eleitoral do regime militar. Foi de fato uma grande
frente, o “partido-ônibus”, que aceitava a todos mas tinha metas claras, ideias
e programa, além de conseguir reunir políticos de estatura, intelectuais e
expressivas lideranças associativas. Fez parte de uma época. Sobreviveu a ela,
mas se descaracterizou. Tornou-se fisiológico, trocando o protagonismo político
pela conquista de posições próximas ao poder. Aceitou papel secundário nos
governos de FHC, de Lula e de Dilma, sempre passando a imagem de indispensável.
Viu crescer sua divisão interna, invariavelmente centrada na questão de
apresentar ou não candidatos próprios às eleições mas impulsionada por
diferenças regionais importantes. Jamais chegou a ser propriamente coeso, como
se houvesse em seu interior uma espécie de ambiguidade programada pronta para
ser amplificada sempre que fosse preciso melhorar a posição relativa do partido
na repartição de cargos ministeriais ou vantagens políticas.
Precisamente por isso, e
levando em conta o tamanho da dissidência na convenção oficial (41%), não será
surpresa se o PMDB mudar de ares caso algo venha a se modificar mais à frente.
O PMDB continuará vivo, desempenhando
papel de peso no desfecho de vários impasses políticos e contribuindo para a
formação de maiorias parlamentares. Perdeu a pegada oposicionista que havia em
sua origem. Ajudará a todos os que se dispuserem a aceitar seus termos. Nessa
toada, permanecerá também atrapalhando, ao engessar a política nacional
mediante um jogo de apoios e trocas de favores que condiciona a democracia e
freia o reformismo.
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