O mês da Copa, que se estenderá de junho a julho, demarcará o início efetivo da campanha eleitoral e da disputa presidencial. Ainda que o processo político esteja já nas ruas e os choques aconteçam diariamente, o período preenchido pelo evento esportivo servirá para que os postulantes deixem clara a consistência do contraste entre oposição e situação. Os distintos polos políticos do país oferecerão propostas efetivamente distintas? Quais serão elas, e que narrativas as traduzirão?Deste ponto de vista, o período tem peso tático e estratégico importante.Além de poder ser usado para que oposição e situação ganhem clareza programática e simbólica, o período servirá, também, para que se encaminhem e quem sabe se resolvam outras disputas e tensões, que todos conhecem mas que nem sempre são devidamente consideradas.A primeira destas disputas é entre Aécio e Eduardo. Se o tucano mineiro trabalha a todo custo para mostrar que ele e o pernambucano são carne da mesma carne, Eduardo age em sentido oposto. Precisa, também a qualquer custo, escapar do abraço de urso que lhe quer dar o PSDB. Para o primeiro, sufocar as diferenças é neutralizar Eduardo e impedir que ele se apresente ao eleitorado como a terceira via tão desejada por muitos cidadãos. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra, pensa Eduardo: sua força, seu maior recurso, depende da capacidade que tiver de convencer o eleitor de que uma solução tertium datur – ele como terceiro termo – é a melhor para o país. Para Aécio, porém, a ideia de que as oposições estão e estarão unidas “em qualquer cenário” é a que melhor atende às pretensões de subir nas preferências: mostra-o como nome capaz de unir os brasileiros, ou ao menos os oposicionistas.A segunda delas é interna corporis, e afeta a todos os postulantes à Presidência.Dilma terá de acalmar sua tropa, a começar do próprio PT. O grito de “volta Lula”, ainda que tenha poucas possibilidades reais de sucesso, reflete uma avaliação negativa de suas possibilidades. Se permanecer vivo, em alto e bom senso, não ajudará à campanha, especialmente se o desempenho dela não melhorar no terreno decisivo da disputa: a política. A “reconfirmação” de sua candidatura pela direção do partido mostra mais fragilidade do que força. Foi uma tentativa de evidenciar a disposição partidária de ir com Dilma até o fim, o que não seria necessário caso ela estivesse solidamente plantada no partido. A presidente, porém, mostrou que não cederá e nos últimos dias seus aliados puseram-se em campo para turbiná-la.Eduardo, por sua vez, terá de acertar o passo e o tom com Marina Silva. Mesmo que não seja algo dramático, não se trata de movimento simples. Temos ali dois projetos políticos, doutrinários e pessoais distintos, e a confluência deles está destinada a exigir sacrifícios de ambas as partes. A insistência de Marina em atuar como uma espécie de alterego (e às vezes de superego também) que vigia os passos e falas de Eduardo poderá aumentar as chamas e os ruídos entre os dois, o que evidentemente não beneficiará à candidatura. Para ganhar impulso e visibilidade, Eduardo precisa cortejar setores amplos sem se colar excessivamente na visibilidade de Marina. As alianças regionais, terreno sempre escorregadio, mostram bem como a operação é complicada.Por último, Aécio precisará resolver o PSDB: pacificar de fato o partido, especialmente no estado mais emblemático, São Paulo, onde as arestas com Serra e Alckmin precisam ser aparadas. O discurso oficial diz, claro, que está tudo muito bem, tudo muito bom. Mas rusgas e feridas, em política, não costumam cauterizar com facilidade, até porque são impelidas por interesses e desejos de poder. Aécio também precisa se equilibrar entre as orientações algo díspares que convivem no partido, que explodem a todo momento, por exemplo quando é obrigado a falar de política econômica. Tem, ainda, que morder a língua para não desancar o PT, bicho-papão dos tucanos, pois caso erre na dose produzirá mais desafetos que eleitores.Nada de novo no front. Todo mundo de algum modo sabe disso. Enquanto as atenções estiverem divididas com a Copa, os bastidores da política estarão fervendo. Aí, quando julho chegar, os que se saírem melhor por trás do palco tenderão a ganhar oxigênio e a crescer.
Porque a política democrática administra o presente mas retira sua poesia da construção consciente do futuro.
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