Nas últimas semanas, escrevi
muito no Facebook sobre os protestos de massas que tomaram conta das ruas de
várias cidades brasileiras. Descuidei do blog. E decidi migrar de volta prá cá.
O ambiente aqui repercute muito menos, não interpela diretamente as pessoas,
mas é mais reflexivo e me permite falar mais com meus botões, que é, no fundo,
aquilo que mais falta faz numa estrutura de comunicação em rede.
O
Face é a praia de todas as opiniões e por lá ninguém convence ninguém, nem
deveria tentar.
No
blog, vem quem quer. Ninguém é automaticamente levado a ler um post com que não
concorda e o irrita. Não romperei com o Face porque acho aquilo lá muito
interessante. Mas vou dar um tempo da discussão política.
Meu
último post por lá destacou o que me parece ser o maior erro político das
muitíssimas opiniões e análises que têm sido difundidas desde ontem. Trata-se
de duas teses, ou hipóteses: (1) da captura da pauta dos manifestantes pela
"mídia conservadora" e (2) da possibilidade de que esteja sendo
preparado um golpe fascista no país.
Fico
chocado com elas e com a facilidade com que progridem. Caramba, elas não são a
confissão cabal, triste, capitulacionista, de que tudo que se fez nesses
últimos dias não serviu para nada? Não são a confissão de que os milhões que
saíram às ruas, de modo multicêntrico, plural, sem direção, não passaram de
massa de manobra da direita? Não significam que a direita é fortíssima e a
esquerda fraquíssima, e portanto que tudo está perdido? Não são a prova que a
direita precisa para dizer que o movimento fracassou?
Não
concordo com nenhuma daquelas teses, ou hipóteses. Não concordo porque acredito
na força das ruas e porque penso que se elas se encontrarem com a política e a
democracia, como pode ser que ocorra, teremos uma mudança enorme no país. A
movimentação desencadeou forças que não conseguiu controlar. Houve ingenuidade
na história. Mas não falta de seriedade, nem fragilidade, nem burrice. Lançada
a semente, a árvore cresceu. E dela saíram múltiplos frutos, democráticos na
maioria, podres e reacionários outros poucos. A vocalização do "sem
partidos" foi um deles.
Mas
isso não deveria levar a que se visse que os frutos podres foram plantados pela
direita ou pela mídia conservadora. Não, moçada, eles brotaram do chão social,
onde estão sendo semeados faz muito tempo. Eles são filhos da época presente,
da estrutura em que vivemos, dessa era complicada que fez da política algo que
causa raiva, frustração e desconforto nas pessoas. Se dissermos que estão sendo
criados e impulsionados pela direita, atiraremos no próprio pé e teremos de
admitir que erramos ao chamar as pessoas para as ruas. Como então ninguém havia
até então percebido essa força extraordinária da direita? E se alguém havia,
por que não alertou aos demais?
A
tese da manipulação pela mídia conservadora -- que estaria interessada em fazer
com que toda a população se voltasse contra o governo Dilma e o PT -- é errada
porque não parte de uma análise concreta da situação concreta e privilegia
imagens, sensações e percepções. É ruim para todos os que querem democracia e
reformas sociais porque implica o reconhecimento de nossa fraqueza. E é
politicamente um desastre, porque eleitoraliza e dicotomiza a dinâmica política
(nós vs. eles) e impede que se descubra aquilo que pode fazer do movimento uma
válvula de renovação do país.
Quanto
à tese do golpe iminente, ela é um simples corolário da primeira.
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