sexta-feira, 21 de junho de 2013

A massa contra os partidos?




As cenas de gente da massa batendo em militantes do PT, do PSOL e do PSTU, as bandeiras queimadas e rasgadas, as agressões e as ofensas aos militantes e aos partidos, causam estupor e dúvidas. Ocorreram em vários lugares, mas foram fortes sobretudo em São Paulo. Trata-se de algo primitivo, reacionário e triste de ver, que precisa ser clara e firmemente repudiado.
Estaria a direita se reorganizando e preparando o ambiente para o fascismo? Já seria o próprio fascismo em ação, liderado pela grande mídia? Ou seriam a natureza, o formato e a envergadura das manifestações que destampariam um monte de raiva e ressentimento, de barbárie e frustração, de ódio aos políticos de todos os tipos?
Fico provisoriamente, pela lógica, com essa última pergunta. Acho simplista a visão de que a direita está controlando e dirigindo o movimento. Acho que há, em manifestações desse tipo -- horizontais, multicêntricas, com baixo poder de agenda --, uma tendência de risco: provocadores e gente politicamente desqualificada, movidos por um tipo de ódio social e ressentimento que não se compõem com democracia. Eles alimentam uma violência e uma paranoia que não são políticas, e costumam ser instrumentalizadas por isso que a gente genericamente chama de direita. Eu diria que são proto-fascistas ou fascistas mesmo, e me recuso a por a Globo ou a grande mídia nesse saco.
As chances de vitória desses energúmenos são remotas, mas eles estão aí. Junto com os demais, disputam o movimento.
Em vez de ficarem denunciando essa escória, os políticos deveriam sair do esconderijo em que se meteram, dar a cara para bater, reconhecer seus erros e procurar criar instâncias de deliberação democrática a que possam ter acesso os manifestantes. Como? Não sei, mas sei, ou acho que sei, que a saída passa por aí. Corolário: será preciso surgir, do meio da multidão, alguma iniciativa legitimada pela própria multidão, para se por como interlocutor. Quem? Não sei? Mas sei, ou acho que sei, que não poderão ser nem eventuais líderes populistas e nem as estruturas horizontais em rede.
O ideal seria a formação rápida de uma grande unidade democrática, que inclua partidos (todos os que se dispuserem a integrá-la), organizações da sociedade civil, gente de esquerda, democráticos e liberais, e gente das manifestações. Será difícil que isso ocorra, dado o grau de eleitoralismo partidário que rola por aí. Nesse caso, o movimento poderá morrer na praia.

3 comentários:

  1. Exagero completo. O PT errou ao orientar seus militantes a participarem das manifestações. Era perfeitamente previsível a reação dos manifestantes apartidários. Não se trata de fascismo. A participação do PT foi provocativa. E o principal: apesar de serem hostilizados, eles é que foram os mais violentos, inclusive agredindo os manifestantes apartidários. O sentimento anti partidário é uma crítica ao funcionamento dos partidos políticos. Vocês analistas chamam de fisiologismo, aparelhamento, governabilidade, coalisão. Os partidos políticos trabalham dentro de uma lógica de toma lá da cá. Isso tem que acabar. Esse foi o recado. Do povo aos partidos políticos. Não faria o menor sentido que os partidos políticos se manifestassem contra eles mesmos. A manifestação geral é contra a política. Contra a condução da política. Contra o toma lá da cá dos pertidos políticos. Mantenha a serenidade e não seja precipitado ao usar palavras tão carregadas, como fascismo. Esse discurso cai bem entre os blogueiros alinhados com as ideologias retrógradas tanto à direta quanto à esquerda. O que está surgindo hoje, está além da compreensão de quem está atolado na mentalidade do século dezenove. Estamos no século vinte e um.

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  2. Admiro seu vigor de polemista e sua disposição de marcar pesado quem pensa diferente de vc, Amaury Sal Wensko. Penso que muitas vezes isso te faz atropelar os textos adversários, e lê-los somente naquilo que contradiz o que vc pensa. Estamos no século XXI, e esse procedimento intelectual tornou-se main stream, infelizmente. Vc, portanto, não está fora da linha, mas totalmente dentro. Nenhum problema quanto a isso, e me sinto privilegiado por contar com teus comentários, que sempre trazem observações inteligentes.
    Digo isso para salientar que vc simplesmente ignorou a hipótese que orientou o post: "Ou seriam a natureza, o formato e a envergadura das manifestações que destampariam um monte de raiva e ressentimento, de barbárie e frustração, de ódio aos políticos de todos os tipos?"
    Não se trata de fascismo, com toda certeza, e foi para dizer isso que o post foi escrito. Em nenhum momento, aceitei essa qualificação. Nem aplaudi o modo como os partidos entraram nas manifestações. Ao contrário. Mas vc, analista, preferiu tomar a lua por Juno e saiu batendo no melhor estilo deixa que eu chuto. Acabou por ser um blogueiro pós-moderno, se me permite essa adjetivação, atolado com uma perna no século XIX e outra no século XXI.
    Obrigado pelo comentário.

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