O 4º Congresso do PT, realizado em Brasilia entre os dias 2 e 4 de setembro, terminou sem o impacto que poderia ter. Antes de tudo, não parece ter saído dele um partido unido e determinado a retornar ao protagonismo político.
O partido
continuou meio atrapalhado, sem saber como se posicionar na cena nacional.
Permanece dividido entre Lula e Dilma, sem um pensamento que funcione como
diretriz. Depois que virou governo, "inchou" e tem filiados de todo
tipo, muitos sem qualificação, como disse o secretário-geral da
Presidência, Gilberto Carvalho. Se o PT tivesse saído melhor do Congresso, todos teriam ganhado. O principal partido sempre pode funcionar como exemplo e inspiração para os demais.
O Congresso partidário girou em torno das posições perante a mídia e da mal explicada e mal entendida proposta de "regulação democrática", que ora apareceu como empenho em se ter um novo marco regulatório, ora como intenção de limitar a atuação da "imprensa marron".
Houve certa ênfase desmesurada na ideia de que há em curso uma "conspiração midiática" destinada a desgastar a imagem dos governos petistas, maximizar os casos de corrupção e malfeitos envolvendo ministros atuais e passados e dividir a base parlamentar que apoia o governo Dilma. Falou-se muito que a conspiração pretende jogar Dilma contra Lula, ou diminuir o legado dos oito anos de Lula.
Compreendo as razões, mas acho que o PT atira no próprio pé quando denuncia como impópria a "faxina" ética que estaria sendo feita por Dilma. Primeiro
porque não há faxina alguma e, segundo, porque as ações do governo nesse
terreno mais ajudam que atrapalham o PT. Ao se recusar a discutir o tema, o PT confessa que o considera desagradável e com isso perde oportunidade para acrescentar uma vertente mais substantiva no debate que se faz por aí.
A resolução política que
instruiu as discussões partidárias no 4º Congresso, além do mais,
valeu-se de um argumento ruim, o da "conspiração midiática", para reagir
às oposições. Não levou em conta que elas, precisamente por serem oposição, farão de tudo para
explorar as fraquezas e os vacilos do governo, que nem têm sido tantos
assim. Em vez de discutir a fundo o tema e assim "blindar" o governo, ajudando-o a enfrentar a turbulência, o partido refluiu para as zonas mais nebulosas da ideologia e do politicismo.
Mas aceitemos que haja uma "conspiração midiática". Ela,
porém, não é um deus na terra, que tudo pode e tudo faz. A força da
mídia é um dado sistêmico nas circunstâncias atuais e todo ator político
que projete o futuro precisa conviver com isso. Achar que todo mundo se
deixa conduzir como carneirinho pelo que falam a Globo e a Veja é
desrespeitar os cidadãos e ignorar a vida, que é bem mais complexa do
que a mídia. Ou será que o governo não tem força para enfrentar
democraticamente a mídia? Não existiria por acaso uma "contra-mídia",
uma mídia alternativa ou pressões petistas e governistas sobre setores
da mídia? Dar toda essa força à midia, assim como falar em "partido da
mídia golpista", parece desculpa para justificar a inação.
Também é
bobo o argumento de que as oposições querem minar as bases da coalizão
que apóia o governo. O que haveria de estranho nisso? Fazer política
também é dividir o adversário. O melhor que pode fazer um partido ou uma
corrente é bater-se por sua própria unidade e, a partir dela, procurar
agregar novas forças e novos aliados. É um trabalho permanente, porque
tudo o mais incita à divisão: o mercado, o capitalismo, a diferenciação
social, o pluralismo político e, com certeza, as oposições.
Um comentário:
Excelente, Marco. Também acho que essa estratégia de se declarar “vítima da mídia” é um tiro no pé.
Abraço,
Rapha
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