segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Entre Davos e Belém


O sociólogo francês Alain Touraine, 83 anos, diretor de pesquisas da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (Paris), é um dos grandes nomes das ciências sociais contemporâneas. Bastante conhecido no Brasil, tem vários de seus livros aqui publicados, como Crítica da modernidade, Poderemos Viver Juntos? e O novo paradigma. A América Latina e a história brasileira sempre estiveram no centro de suas preocupações, assim como os movimentos sociais. Touraine defende a prevalência da liberdade sobre os determinismos e postula a “ação social” como fulcro da sociologia, com o que tem se mantido atento a tudo que diga respeito aos distintos sujeitos sociais da modernidade atual.

No último dia 1 de fevereiro, Touraine concedeu extensa entrevista a Laura Greenhalgh e Ivan Marsiglia, do jornal O Estado de S. Paulo (Caderno Aliás), na qual foi convidado a falar sobre a crise mundial e os recentíssimos fóruns de Davos e Belém. Seu diagnóstico insiste na gravidade da crise, cujo eixo repousaria numa crescente separação entre economia e política: “após um período inicial de desenvolvimento, o sistema financeiro se descolou completamente do corpo da economia, para atuar num campo fora das possibilidades de ação social e coletiva, campo este onde ele poderia ser reequilibrado e corrigido”. Em decorrência, a desigualdade social aumentou generalizadamente e a regulação se tornou quase que impossível.

Em que pese sua convicção de que a “ação da sociedade” é a chave para a modelagem de qualquer sistema social, Touraine não acredita que ela tenha se estruturado de modo suficiente, a ponto, por exemplo, de moderar e disciplinar o mercado. Na sua opinião, é preciso investir em política: “não adianta apenas reforçar partidos e Parlamentos. Claro, eles são importantes e têm sua função no mundo da economia moderna, mas é vital reinventar instâncias de contestação e criar um movimento de opinião pública forte. Aí está a força da política”.

No segundo semestre de 2008, Touraine publicou um livro reunindo diversos “encontros por escrito” que manteve com Ségolène Royal, ex-candidata do Partido Socialista francês à Presidência. O título escolhido – Si la gauche veut des idées [Se a esquerda quer idéias] – é bem indicativo de suas preocupações atuais.

A íntegra da entrevista, bastante interessante, pode ser lida aqui.

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