Sexta-feira é um dia ruim
porque fecha a semana, ainda que seja bom por antecipar o final de semana.
Talvez não seja dia indicado
para discussões políticas. Fernando Gabeira, por exemplo, escreve às sextas no
Estadão. Pega a moçada cansada, de mau humor. Ele não alivia: faz a crítica que
julga dever ser feita. Quase sempre bate no PT e no Lula. Parece que deseja ajustar
as contas, como se algo mal resolvido tivesse ficado para trás. Não sei o que
é, nem me interessa. Procuro fazer com ele o mesmo que faço com tudo que leio:
ver o que há de aproveitável, sem me preocupar muito em saber se ele faz “a análise
concreta da situação concreta”, que a rigor não cabe a ele (ou a quem escreve
em jornais) fazer.
As reações são,
invariavelmente, de incômodo. Eu gosto, mas nem todo mundo gosta. A
intolerância que ele critica no texto de hoje (Bom dia, Cinderela) explode: tratar-se-ia de um “ressentido”, de um
“analista de botequim”, um cara “cansado”, mais chegado a “conversas de
facebook” que a discussões políticas aprofundadas. O estilo dos que o criticam é
o mesmo estilo (a mesma cultura política) que ele rejeita como “veneno”.
Se formos considerar somente o
que rola no facebook, estamos perdidos. Infelizmente, suspeito que a rede é um
retrato do que rola fora dela: a política brasileira está mal das pernas. É
como se estivesse se suicidando. Especialmente a progressista. Faltam-lhe
analistas, lideranças intelectuais, sensatez, equilíbrio, disposição para reformular
ideias e procedimentos. Estamos necessitados de uma reforma dos reformistas, ou
dos que querem sê-lo.
Este talvez seja o mais
importante passo que precisa ser dado. Tenho defendido esta hipótese em quase
tudo que escrevi nos últimos tempos. Estamos saturados das fórmulas existentes,
dos “paradigmas” que orientam a luta política. Precisamos ir além, acender o
farol alto, olhar o que importa, agregar o que há de melhor: um exercício de superação
dialética.
O progressismo brasileiro
perdeu Hegel (Marx, nem pensar!). Terá de fazer um esforço para recuperá-lo. A
choradeira das "viúvas", dos que lamentam o que se perdeu ou se
abandonou, não nos levará a lugar nenhum. Há pessoas que não gostam do Gabeira,
outras que gostam. Assim também com Lula, Aécio e Campos, FHC e Dilma. Estão
todos basicamente do mesmo lado, mas poucos reconhecem isto. Insiste-se em
distanciá-los, em fazer com que se batam até a morte, em nome da "luta
política". Ninguém pensa em hegemonia, em ideias e cultura. Ninguém
combate o capitalismo, não há uma proposta progressista consistente, que sugira
outros rumos à sociedade. É somente mais do mesmo.
O país irá para o buraco se
nada for mudado. Poucos se importam em captar o fundamental, fica-se quase
sempre na superfície. Bem, se é o Gabeira quem escreve, dizem os incomodados, só
dá prá esperar coisa "contra o PT", como se o PT fosse o centro do
universo e nada mais importasse. Falar contra ele é pecado mortal. Morte da
inteligência. Artigos de jornal, como o do Gabeira, não podem fazer tudo, não
têm espaço para isto: Gabeira não quis analisar a oposição, mas a situação, e a
moçada, em vez de ver se há algo de aproveitável na análise, reclama que ela é
parcial, que chove no molhado, que não prova o que diz, que "não critica a oposição", que seria ainda pior que o
PT porque deseja "voltar aos anos 90" e assim se vai, rolando escada
abaixo. Mesmo quando a conversa é “de facebook", onde as intervenções não podem
ser levadas muito a sério, o pessoal enche a boca prá falar, cada um é dono da
verdade, um zumbi em ação, indiferente aos demais. Nada de diálogo, nada de
esforço de superação. Como na cena pública, aliás.
Eu, por sorte, escrevo todo
quarto sábado do mês no Estadão. Quer dizer, não é sorte total. Pego a moçada,
muitas vezes, saindo da cama, depois das baladas de sexta. A dificuldade para
debater com serenidade parece ser uma praga que não escolhe dia nem hora para
se manifestar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário