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Charge de Amarildo |
Para variar, muita falação em
torno da entrevista que Lula concedeu em Portugal. Há dois aspectos nela que
merecem atenção.
Um tem a ver com a frase “Não
se trata de gente de minha confiança”, que muitos interpretaram como sendo a
confissão de que Lula quer manter distância do pessoal que está na Papuda. Não
vejo assim. Ouvi várias vezes a entrevista, e penso que a interpretação certa é
outra. Lula quis dizer: “Não se trata de saber se são pessoas de minha
confiança ou não, e sim de reconhecer que o julgamento foi político e visou
a prejudicar o PT”. Entender de outro jeito é forçar a barra e agir exclusivamente
para agitar o ambiente. Nada contra que se agite, mas é preciso estabelecer a
verdade dos fatos sempre.
Foi uma falha de comunicação de
Lula? Pode ser, já que ele talvez tenha se deixado levar pelo calor do momento
e pela preocupação de enfatizar sua posição sobre o julgamento. Mas não dá para
distorcer o que ele quis de fato dizer.
O segundo aspecto tem a ver com
sua opinião sobre o mensalão. Chuva no molhado. Nada há de novo nas declarações
dele. Na melhor das hipóteses, valeria a pena especular sobre as razões que o
levaram a repetir a ladainha precisamente agora. A partir de 2006, Lula sempre
disse basicamente a mesma coisa: “Não existiu mensalão”. Ultimamente, depois
que saiu da Presidência, passou a defender que seria preciso “recontar o
mensalão”, que teria sido um factoide criado pela mídia, que praticamente pautou
a atuação do STF e condenou os acusados. Antes disto, em 2005, como nos lembramos
todos, ele chegou a pedir desculpas à sociedade pela ação nefasta de alguns
aloprados. Reformulou a opinião depois, e não a largou mais. Teria sido “simples
caixa 2”, ou quiçá nem mesmo isto. A novidade, agora, é que ele quantificou
melhor as coisas: o julgamento "teve praticamente 80% de decisão política
e 20% de decisão jurídica”. É uma frase de efeito, sem qualquer significado que
não o de agitar o ambiente.
O ruim da história é a afronta
ao STF, desnecessária e inadequada. Só serviu para levantar suspeitas e
desacreditar a justiça. Partindo de Lula, não ajudou nem a que se explique
melhor o julgamento (que como qualquer outro julgamento do tipo é político e
jurídico), nem a que se soterre a questão e se vire a página. Com a frase, o
ex-presidente fez com que o mensalão voltasse ao centro do palco.
Que interesse pode haver em
manter o mensalão como morto-vivo no processo político brasileiro? Alguém
lucraria com isto? Penso que ninguém, nem o PT, nem os condenados e menos ainda
Dilma. Ao se pronunciar sobre a questão, Lula não deve ter querido atirar no
próprio pé, mas seu alvo é obscuro para mim.
Poder-se-ia pensar que Lula
quis deixar acesa a chama da indignação para fazer média com o povo petista,
cortejá-lo, quem sabe mantê-lo aquecido para uma futura candidatura. Pode ser
também que a ideia tenha sido a de botar pressão no STF para que ele julgue o
mensalão mineiro com o mesmo rigor ou com idêntica dose de “politicidade”.
A conclusão plausível, no
entanto, está no subtexto de Lula, nas entrelinhas da entrevista: ele não saiu nem
sairá de cena, e estará sempre à disposição para qualquer cogitação
presidencial.
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