Quase no mesmo momento em que o
Diretório Nacional do PT informava, em Brasília (11/04), ter elaborado um
projeto de iniciativa popular para coletar 1,5 milhão de assinaturas a fim de
propor alguns pontos de mudança na política brasileira, o pré-candidato tucano
às presidenciais de 2014, Aécio Neves, declarou que deseja privilegiar uma
reforma política caso vença as eleições: “Pretendo recolocar em discussão a
cláusula de desempenho, que permite apenas o funcionamento dos partidos que
tenham um mínimo de presença na sociedade” (12/4/2014).
A proposta do PT está
fundamentada basicamente em quatro pilares: financiamento público e exclusivo
de campanha; voto em lista preordenada para os parlamentos; aumento da
participação feminina; assembleia constituinte exclusiva para reformar a
política.
A rigor, não há maior contraste
entre as propostas. Na frase de Aécio, em que pese a antipática preocupação em
reduzir o número de partidos com assento parlamentar, a preocupação parece ser
a de aumentar a racionalidade da organização partidária e, assim, fortalecer os
partidos principais. A lista preordenada do PT caminha na mesma direção, na
medida em que reforça expressivamente o controle dos partidos sobre as escolhas
eleitorais.
Fechar o cerco à representação
parlamentar dos micropartidos não é uma medida que se oponha aos pilares
petistas. As duas propostas, em conjunto, poderiam ensejar um projeto mais
consensual e portanto mais viável. Haveria que se ver, é claro, o que mais
pensa em propor Aécio, mas em princípio parece haver, por parte dos dois
partidos, uma intenção de rever o modo como se estrutura o sistema político
brasileiro.
Há também, entre nós,
defensores do sistema atual, que estaria funcionando de modo bastante
satisfatório e não requereria maiores mudanças. Talvez, quem sabe, alguns
ajustes.
Conclusão: estamos tateando no
escuro, sem consensos suficientes. Cada protagonista fala em reforma política
com o olho nas urnas, buscando sensibilizar eleitores que não apreciam o padrão
e os resultados da política atual, seu. Há um quê de oportunismo nesta falação
sobre reforma política. Joga-se em demasia para a plateia. Não parece haver
vontade efetiva de reformar de fato.
Porém, se há vontade mas as
iniciativas não progridem e falta clareza, por que não começar com uma
tentativa de fixar a reforma na agenda estatal, retirá-las dos programas de
governo e dos limites, interesses e entonações das agendas partidárias? Todos
seriam beneficiados caso houvesse um consistente debate público sobre a
política.
Poder-se-ia também contornar a
controvérsia de outro jeito. Se a tese da reforma cambaleia, sem muito eixo e
esclarecimento, que tal enfrentá-la com uma interrogação preliminar: precisamos
mesmo de uma reforma política? Que profundidade deve ter ela, até onde se deve
enfiar a faca? O sistema vigente está prejudicando efetivamente a governança,
minando a representação e impedindo, por exemplo, que se reduza a corrupção e
se façam as necessárias reformas sociais? Ou são as reformas que estão soltas
no ar, desligadas de um plano mais orgânico e carentes do devido apoio popular?
Bem mais importante do que
discutir detalhes e procedimentos (se uma Constituinte exclusiva, um plebiscito
ou uma deliberação congressual), é examinar o que se ganharia com uma reforma
institucional da política.
Sobraria assim uma questão mais
dramática: não estaríamos tapando o sol com a peneira? Nosso problema não seria
mais a qualidade dos políticos, a falta de personalidade programática dos
partidos, a pobreza de ideias, o excesso de marketing, o foco excessivo no
calendário eleitoral, os desajustes federativos e não simplesmente as regras do
sistema político? Isso tudo por acaso mudará se as regras forem outras?
Conforme a resposta que se der
a esta última questão, poderemos chegar à conclusão de que não nos falta uma
“reforma política”, mas sim uma reforma da política. Quer dizer, não são as
regras que atrapalham, mas o modo como se vive, se pensa e se faz política. No
meu entender, isto depende muito mais da cultura política prevalecente que do
sistema.
É isso. Lí e gostei: uma reforma da política. Mas isso causa estragos imediatos. Portanto, tergiversar sobre o tema faz parte da "política".
ResponderExcluirOlá professor!
ResponderExcluirParticularmente prefiro pensar em uma "revolução" política ao invés de uma "reforma".
A revolução que me refiro vai ao encontro de sua provocação.
O que me deixa muito cético, é a "moda" de se apresentar como apolítico, ataques a tudo que se refere a política, etc. É de certo modo o "Esquecimento da Política", que não se alterou muito desde a edição de sua obra ...
Em alguns momentos das manifestações do ano passado, se viam pessoas autointituladas apolíticas, sem perceber que o próprio movimento era algo político!
Reformar A política, neste cenário é muito complexo (e quase inviável) ... talvez seja mais viável (mas igualmente complexo)seguir a via da reforma política. Implementada esta via, e permanecendo os mesmos problemas, só nos restará reformar A política.
Um abraço, Júlio Andrade
Olá professor!
ResponderExcluirParticularmente prefiro pensar em uma "revolução" política ao invés de uma "reforma".
A revolução que me refiro vai ao encontro de sua provocação.
O que me deixa muito cético, é a "moda" de se apresentar como apolítico, ataques a tudo que se refere a política, etc. É de certo modo o "Esquecimento da Política", que não se alterou muito desde a edição de sua obra ...
Em alguns momentos das manifestações do ano passado, se viam pessoas autointituladas apolíticas, sem perceber que o próprio movimento era algo político!
Reformar A política, neste cenário é muito complexo (e quase inviável) ... talvez seja mais viável (mas igualmente complexo)seguir a via da reforma política. Implementada esta via, e permanecendo os mesmos problemas, só nos restará reformar A política.
Um abraço, Júlio Andrade
Concordo com vc, Júlio. A complexidade a que vc se refere complica tudo mesmo e o caminho das modificações pontuais e progressivas se mostra bem mais realista. Obrigado pelo comentário. Abraço
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