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Charge de Amarildo |
Sendo verdade que onde há fumaça há fogo, devemos ter dias
trepidantes na cena política nacional no que diz respeito ao candidato que
disputará as presidenciais pelo PT.
O nome oficial continua a ser o de
Dilma, que ainda surfa em bons índices de popularidade. Mas são muitos os indícios de que, nos bastidores, há quem lute por um
retorno de Lula ao palco.
A impressão é de fogo de palha, mas a fumaça é
espessa. Dilma desconversa, diz que está tudo bem, que nunca houve divergências,
“a não ser as normais”. Lula demonstra preocupação e não se cansa de observar que
Dilma é teimosa demais. Os desmentidos acrescentam pouco, não alteram as especulações.
Não conheço o argumento dos que defendem essa
solução. Mas imagino por onde ele passa. Não se trata de medo de perder o
poder, mas de medo de não se conseguir de volta as vantagens e as facilidades
que se tinha com Lula. Não é a esquerda ou militantes petistas que pedem o
retorno do ex-presidente, mas empresários, banqueiros e aliados da base
governista, a começar dos peemedebistas. O que eles querem, antes de tudo, é
ganhar massa muscular para pressionar Dilma e conquistar mais posições de força na
próxima gestão, em nome do fortalecimento do pacto que vem sustentando os governos
petistas desde 2002. Querem, também, deixar claro que não confiam na oposição,
que não estão dispostos, ao menos por agora, a cerrar fileiras contra o governo. Por via indireta, dizem que a oposição é fraca,
não tem programa e suas lideranças ainda são pouco expressivas. Está muito
aquém do que seria necessário para vencer uma eleição.
Os “sebastianistas” sugerem, portanto, que estão
a fazer um movimento de renegociação de apoios. Com Dilma, o movimento
encontraria dificuldades e os empurraria para perto da oposição. Lula
descongestionaria, abriria novos espaços e daria novo fôlego a tudo.
A ação supõe que Lula, animal político por
excelência, gerenciaria com mais competência as relações Estado-sociedade, acalmando
tanto a movimentação social quanto o desarranjo e a pressão
político-institucional, o que Dilma não tem conseguido fazer. É uma preocupação
com o déficit de articulação e coordenação política que se evidenciou no
país. Preocupação, também, com o aumento
dos riscos que decorreriam da continuidade da atual situação: riscos para a
estabilidade econômica, a intermediação política, a continuidade das reformas, os
arranjos político-sociais estruturados desde 2002 e, evidentemente, riscos para
os negócios. Sem a resolução desse déficit, ficaria abalado o pacto informal
entre as grandes empresas nacionais e multinacionais, os bancos, o agronegócio
e a grande agricultura, a política tradicional e parte dos interesses
organizados do mundo do trabalho.
A aposta é que Lula tem personalidade, estilo e
biografia para caminhar nessa direção. Quer dizer, reuniria trunfos importantes
para tentar um resgate daquilo que fez a fortuna de seus dois governos,
atualizando-os à nova fase do país.
O problema maior é que precisamente por ter
muita sagacidade e talento (além de muito capital político), Lula deve estar pensando
se vale a pena entrar na disputa agora e por essa porta, ou seja, esparramando
sangue interno. Ele precisaria sacrificar Dilma, o que não é fácil nem propriamente
dignificante. E precisaria concorrer num quadro que não se mostra tão tranquilo
assim, ou seja, no qual teria tantas possibilidades de vitória glorificadora, quanto de derrota.
A pergunta que fica é se basta um bom timoneiro
para que o navio singre os mares. A qualidade da nave e da marujada também
pesa, e quase sempre de modo categórico. O mesmo vale para a cartografia que
orienta o capitão: um mapa malfeito, desatualizado ou imperfeito pode levá-lo
na direção de rochedos implacáveis ou deixá-lo à deriva. No caso da política, o
mapa é aquilo que costumamos chamar de projeto. E ele não existe de modo
claro e suficiente.
Conclusão: com Lula ou com Dilma, a ventania
seguirá firme pelas bandas do Planalto.
Excelente análise do professor Marco Aurélio! Há tempos venho procurando uma visão ponderada sobre o momento em que estamos singrando nesse mar nunca calmo da política nacional. Muito feliz a metáfora empregada pelo professor: "A qualidade da nave e da marujada também pesa,e quase sempre de modo estratégico." Síntese perfeita para ajuda a explicar a nossa situação enquanto nação. É esperar e ver os rumos que serão tomados.
ResponderExcluirValeu, Nelson!
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