Se Copa do Mundo ganhasse eleições e ajudasse a melhorar a avaliação dos governos, talvez a ditadura de 64 não tivesse acontecido ou não teria acabado como acabou.Futebol não é o ópio do povo, que tem sabido separar bem as coisas: ao povo o que é do povo, aos políticos e governantes, o resto, ou seja, as eleições e o poder. Uma coisa é o jogo, outra coisa é a representação. (Falo assim sabendo que “jogar” se aproxima bastante do “representar”.)Todos faturam com ele, dos empresários e comerciantes aos políticos, dos petistas e tucanos aos extremistas de esquerda e de direita, passando evidentemente pelos peemedebistas, pelos comunistas, pelos socialistas e pelos liberais. Ativistas ou intelectuais que foram tucanos empedernidos um dia e agora desfilam como petistas apaixonados e sinceros aplaudem as obras da Copa como se fosse o resgate da nação, a definitiva emancipação social dos brasileiros. Do mesmo modo, petistas arrependidos ou desiludidos, ao lado do variado contingente de oposicionistas, vaiam a Copa para pedir mais investimento social ou mais “racionalidade gerencial”.Em suma, tem pra todos os gostos. E todos sempre quiseram e continuarão a querer tirar sua casquinha.Precisamente por isso, seria recomendável que os intelectuais, os gestores, os governos, os políticos – especialmente aqueles de melhor qualidade, em quem se depositam as chances do futuro – fossem mais comedidos em suas performances. O ideal seria que falassem menos, limitando-se a tomar providências e decisões, a torcer contra ou a favor, a olhar o jogo quando ele começar.Encher a boca para falar que o governo fará a melhor de todas as Copas ou que o brasileiro mais uma vez mostrará seu valor é tão fácil quanto espinafrar o Blatter ou zicar os planos da FIFA.Difícil mesmo é tratar o futebol com a seriedade que ele merece e com a responsabilidade que a política exige. Ou seja, relativizá-lo (it’s just a game, fellows...) e extrair dele o que pode haver de positivo na dimensão lúdica, na publicitária e na econômica. Sem esquecer a dimensão técnica, que entrará em campo e da qual dependerá boa parte do almejado sucesso do show.
Porque a política democrática administra o presente mas retira sua poesia da construção consciente do futuro.
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