Não tenho talento nem
conhecimento para fazer crítica literária. Até tentei, muito tempo atrás. Foi
um fiasco.
Leio muita literatura, creio
que hoje em dia até mais do que livros científicos. Para mim, é impossível
entender o mundo sem literatura, sem música e sem cinema. A arte nos ensina
coisas indispensáveis, que não podem ser encontradas na ciência, na filosofia
ou na religião. Além disso, é menos chata.
Para mim, um bom romance não se
filia a gêneros, escolas ou autores. É um texto que pega pela emoção, que envolve
e faz fantasiar, refletir, pensar na vida, além de apresentar o leitor a
personagens emblemáticos, singulares, com os quais estabeleço um relacionamento
e entabulo uma conversação.
É assim com todo
mundo que gosta de ler. Mergulhar no terreno sensível e explorá-lo de modo a ultrapassá-lo.
Acabei de ler Confinados, de meu amigo João Batista de
Andrade, publicado recentemente numa bela edição da Prumo, de São Paulo.
O livro faz exatamente o que
escrevi acima. Pegou-me pela emoção (que aumentou porque conheço o autor e compartilhei
algumas coisas com ele). Ofereceu-me um relato pungente da vida como ela é e me
pôs em contato com uma galeria de personagens densos, expressivos, fascinantes.
Traficantes, gente comum, intelectuais. Sua trama é paulistana – a cidade
tomada pela violência, um enredo que de certo modo nos remete às ações do PCC
que sitiaram a cidade em 2006. Mas o que o enredo revela é universal e flui de
maneira explosiva, às vezes delirante: confusões mentais, angústia, solidão,
dúvidas, medos, a luta diária pela sobrevivência e pela vida, que pulsa mais
forte.
Como é cineasta e
documentarista militante – autor de tantos belos filmes com a marca do “cinema
de intervenção” (Doramundo, O homem que virou suco, Vlado) –, João Batista constrói sua história como um mosaico de
pequenas cenas plásticas, caprichosamente costuradas entre si. Lança-nos num redemoinho de labirintos e encruzilhadas.
Seus personagens estão
confinados nessa trama diabólica que não controlam nem conhecem. Vivem.
Batalham. Matam, amam e morrem. Confinam-nos com eles. E ao fazerem isso nos
libertam.
O final aberto do livro sugere
que o destino de cada um não está pré-determinado nem pode ser escolhido
unilateralmente. Chances, desvios, riscos, circunstâncias e oportunidades estão
o tempo todo redefinindo rumos que pareciam definitivos. É uma aposta na
liberdade. E na capacidade humana de refletir sobre a própria experiência.
Tá na abertura do livro: "Você,
como um leitor especial deste romance, pode mudar tudo. Proponha, mude, mesmo
para que seja para que tudo continue como está. Pois se uma pessoa pode mudar
uma história, abre-se uma nova chance para a vida. Quem sabe uma pessoa possa,
com um gesto, uma opinião, mudar o mundo?”.
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