Se o
governo pretende mesmo fazer uma reforma política que ouça o povo sem excluir
as formas institucionais de intermediação e processamento, tá na hora de usar
mais a cabeça
Por que não pensar de outro jeito no tão desejado plebiscito da reforma política? Tá certo, ele se converteu em bandeira e balão de oxigênio do PT e do governo Dilma, que calculam ganhar pontos com a proposta. Não sei avaliar se é mesmo tão vantajoso assim, mas é o principal corrimão em que se apoiam os governistas. Será difícil convencê-los do contrário. Morrerão em pé, na luta.Mas, se a intenção é mesmo fazer uma reforma política que ouça o povo sem excluir as formas institucionais de intermediação e processamento, poderiam começar a cogitar do seguinte:(1) Toda a força à comissão criada pelo presidente da Câmara para apresentar uma proposta de reforma;(2) que se diga com clareza que nem a mais bem-sucedida reforma política abre a porta do paraíso. Regras de funcionamento do sistema político são somente uma pequena parte do problema das políticas públicas e da felicidade social. Não se pode dizer ao povo que se as regras mudarem a vida mudará, sob pena de se incorrer em pecado de infâmia e falsidade;(2) que a proposta cozinhada na Câmara – com todos os seus detalhamentos – seja apresentada aos cidadãos, discutida amplamente e reformatada;(3) que seja então submetida ao voto popular – mas não como referendo, e sim como a Proposta A de um plebiscito cuja Proposta B seria composta pelas divergências e diferenças em relação à A.Tudo isso levaria algum tempo. Mas creio que forneceria uma plataforma reformadora mais legítima e consistente, certamente muito melhor da que se obteria com um plebiscito que perguntasse ao povo se ele é a favor do voto distrital ou do voto proporcional, da lista aberta ou da lista fechada, do financiamento público ou privado, y otras cositas más.Um plebiscito feito à moda antiga e sem qualquer consenso de quem quer que seja, poderia simplesmente des-reformar tudo. Quer dizer, empurrar o carro ainda mais prá trás.
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