Meu querido amigo Luiz Eduardo Soares, antropólogo e cientista político, fez circular um belíssimo texto sobre as manifestações e os protestos de rua das ultimas semanas. Nele, ele nos convida a por pra fora "o que sabemos" e sobretudo "o que não sabemos" sobre a situação. Vale a pena ler. Está em http://www.luizeduardosoares.com/?p=1098Luiz Eduardo fala explicitamente em "evitar a tentação de explicar" e algumas pessoas interpretaram a expressão como recusa a explicação. Não penso assim, e sem querer interpretar o texto do Luiz, que é irretocável, diria que a expressão destina-se a questionar a arrogância explicativa, aquele lance de dizer "eu sei tudo", sei "até aquilo que está por trás das ruas" e por saber eu "posso dizer o que as ruas estão dizendo". Não se trata de não explicar, mas de não ter dúvidas e de não saber usar a dúvida como recurso explicativo. A posição dele é ótima. Eu a interpreto como refletindo aquela modéstia intelectual que admite que a realidade é sempre mais complexa e complicada do que nossa vã filosofia.Pensando nisso, cheguei a três ou quatro perguntas retóricas, que me ajudam a destacar algumas coisas.Se o movimento não se propõe a dirigir e coordenar, se é multicêntrico e horizontal e se auto-organiza na luta, por que outras pautas (algumas até bem conservadoras) não iriam engrossar o caldo? Se a violência está diariamente nas ruas e faz parte da vida cotidiana, porque não apareceria em manifestações que têm a cara das ruas? E se ela está aí, entranhada, esse seria um motivo para deixarmos de valorizar o componente eminentemente positivo, democrático e grandioso das manifestações, para tentarmos diminui-las alegando os riscos da sua "direitização" ou da sua manipulação pelo fantoche da "mídia conservadora"? E tudo isso para defender um governo de esquerda que não pratica políticas de esquerda, não ameaça os interesses dominantes e não está a correr qualquer risco de cair?Sei não... Devemos discutir mais e evitar a tentação de explicar. Para, quem sabe, conseguir explicar melhor.
Porque a política democrática administra o presente mas retira sua poesia da construção consciente do futuro.
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